Governo Bolsonaro tentou vincular Lula a facções, diz servidor ao STF

Testemunha na ação do golpe afirma ser evidente uma atuação diferente da Polícia Rodoviária Federal em fortalezas lulistas

BATANEWS/CARTACAPITAL


O presidente Lula (PT). Foto: Ricardo Stuckert/PR

O depoimento de um servidor do Ministério da Justiça ao Supremo Tribunal Federal reforça a convicção de que o governo de Jair Bolsonaro (PL) usou o aparato estatal para tentar ligar o então candidato Lula (PT) a facções criminosas.

Clebson Ferreira depôs nesta segunda-feira 14 como testemunha em uma das ações penais sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. À época das últimas eleições presidenciais, ele integrava a Secretaria de Inteligência da pasta.

A testemunha foi questionada sobre um diálogo com sua então esposa a respeito de uma solicitação que havia recebido. A tarefa era detalhar a correlação estatística de votos em áreas dominadas por facções, com o objetivo de identificar se as intenções de voto em Lula eram mais expressivas em regiões sob o jugo do Comando Vermelho.

“Eu lembro que tinha mencionado que chegou um pedido para tentar ver análise e correlação estatística da concentração de votos em territórios do Comando Vermelho no Rio de Janeiro, para ver se tinha correlação, se o candidato Lula tinha maior concentração de votos em área dominadas por facção criminosa', afirmou o depoente.

Ele também relatou ter recebido da Inteligência do ministério um pedido para analisar as concentrações de votos em Bolsonaro e Lula a fim de identificar onde cada um dos então candidatos teria pelo menos 75% da preferência.

Ficou evidente, segundo Ferreira, uma atuação diferente da Polícia Rodoviária Federal nas fortalezas lulistas. “Quando fiz os dados e filtrei 75% acima, houve um mar vermelho de pontos no Nordeste e começaram a explodir na minha raspagem de dados e notícias de que pessoas estavam impedidas [de votar] por congestionamentos grandes.'

No submundo do bolsonarismo, a estratégia de colar Lula — sem provas — em facções criminosas foi uma tônica da campanha eleitoral de 2022. Ainda tramita na Justiça comum do Rio de Janeiro uma ação contra Jair Bolsonaro movida por um morador do Complexo do Alemão, na capital fluminense, em busca de indenização após o ex-capitão ter associado a sigla CPX a traficantes.

Na eleição de 2022, Lula foi fotografado usando um boné com a sigla durante uma visita ao complexo. Bolsonaro disse que o adversário estava alinhado a criminosos e que “CPX' significaria “cupinxa' (sic), ou seja, parceiro do crime.

À época, expoentes da extrema-direita como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ex-secretário e deputado federal Mario Frias (PL-SP) compartilharam diferentes versões das fake news sobre o assunto.