Redução de abates deve limitar efeitos do tarifaço sobre o preço da carne bovina

Para Alcides Torres, da Scot Consultoria, cotação do boi gordo tende a se recuperar

BATANEWS/CANAL RURAL


Foto: Divulgação

Diante do anúncio das tarifas adicionais sobre as exportações de carne bovina para os Estados Unidos, que entram em vigor nesta quarta-feira (6), a União Nacional da Pecuária, entidade que representa 45% de todo o rebanho brasileiro, orientou seus associados a vender apenas o necessário para cumprir compromissos já assumidos, até que o mercado se estabilize.

Para Alcides Torres, analista de mercado e diretor da Scot Consultoria, a medida pode ajudar a recuperar os preços para o patamar anterior ao tarifaço.

“Essa orientação de não vender é uma estratégia interessante para estimular a valorização dos preços. No cenário atual, nem se trata exatamente de fazer os preços subirem, mas de recuperar o valor que era praticado antes do anúncio das tarifas. Normalmente, nessa época do ano a oferta já tende a cair naturalmente. Por isso, o impacto negativo foi bem menor do que o mercado esperava. Hoje, inclusive, os preços já começaram a reagir. O escoamento da carne melhorou e a oferta está mais restrita, em parte por causa da própria queda de preços”, explica Alcides.

Ainda de acordo com o diretor da Scot, uma das principais alternativas para lidar com os impactos do tarifaço será o redirecionamento das exportações de carne bovina para outros mercados.

“Na prática, com uma tarifa de 50%, o que temos é quase um embargo. Fica inviável competir com esse custo. E o mercado reage muito mais às expectativas do que aos fatos em si. Esse clima de insegurança faz o comprador pressionar o preço para baixo. O primeiro impacto foi aqui mesmo, no mercado interno, afetando os pecuaristas, não o consumidor final. De todo modo, apenas 2% da carne brasileira é exportada para os Estados Unidos. Por isso, redirecionar esse volume para outros países será uma tarefa relativamente simples.”

Apesar do cenário desafiador, Alcides acredita que, com a redução nos abates, as cotações do boi gordo devem se manter firmes pelos próximos dois anos.

“Estamos em plena entressafra, com menor oferta de animais prontos para o abate. Mesmo com o mercado externo pressionado, acredito na recuperação dos preços. A pecuária brasileira é muito grande, muito forte, poia exportamos para mais de 125 países. É claro que a China é o nosso principal destino, mas temos uma pauta diversificada. Além disso, o ciclo de preços na pecuária pesa bastante. Passamos por três anos de abate intenso de fêmeas, o rebanho está reduzido, e o preço do gado de reposição subiu. Esses fatores mantêm o mercado firme.”, diz Alcides.

“Não dá para cravar até quanto vai a arroba, mas a tendência é de firmeza nos preços, tanto nos próximos meses quanto em 2026 e 2027. Essa queda registrada no final de julho pode ser considerada pontual. O mercado já vinha numa trajetória de alta, o tarifaço apenas atrasou esse movimento. Mas esse atraso não pode durar muito. Ainda temos algum alívio no custo da alimentação do gado, como farelo de soja e milho, mas isso também tem limite”, complementa o analista.