Política
8 senadores gastaram R$ 272 mil em passagens para ir aos EUA
Cada um dos integrantes do grupo recebeu também cerca de R$ 3.500 por dia; custo total ficou perto de R$ 500 mil e resultado foi quase nulo
BATANEWS/PODER360
A comitiva de 8 senadores que foi aos Estados Unidos tentar convencer Donald Trump (republicano) a sustar as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente norte-americano contra o Brasil gastou R$ 272,3 mil só em passagens para chegar ao país. O ticket mais caro custou R$ 52.242,69.
Cada um dos integrantes também recebeu US$ 629,61 (cerca de R$ 3.500) por dia para se hospedar e bancar suas despesas por lá. O valor é fixo e costuma ser ajustado anualmente. Todas essas diárias custaram R$ 201,6 mil. O custo total da viagem foi de R$ 476,5 mil, considerando também outros R$ 2.596 de seguros.
O resultado da viagem, apesar de cara, foi perto de nulo. Os senadores não tiveram acesso a ninguém do alto escalão do governo Trump e chegaram, no início da programação, a se reunirem sozinhos no hotel.
Depois, os senadores brasileiros tiveram uma reunião com 9 congressistas, sendo 8 democratas. O único republicano que participou do encontro foi Thom Tillis, desafeto de Trump. Nenhum deles tem influência na Casa Branca.
O grupo do Brasil foi liderado pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores). Os senadores desembarcaram em Washington no domingo (27.jul). As agendas começaram na 2ª feira (28.jul) e terminaram na 4ª feira (30.jul).
Segundo Trad, os principais objetivos da viagem eram “azeitar' a relação com os congressistas norte-americanos, ouvir as opiniões externas sobre o Brasil e negociar possível prorrogação do prazo.
A viagem fez parte de uma missão oficial autorizada pelo Senado e, por isso, o senadores têm o direito de pedir o reembolso dos gastos com as viagens internacionais (passagem, seguros e etc).
Com exceção do líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que ainda não informou os gastos com passagem, foram de classe executiva ao menos 5 senadores.
Marcos Pontes (PL-SP) já estava no exterior e, por isso, a passagem foi mais barata que os demais.
Na plataforma de busca de passagens Google Flights, o Poder360 encontrou passagens de última hora de Brasília para Washington por cerca de R$ 4.100, na classe econômica, e por cerca de R$ 20.500 na executiva. A busca foi feita na noite de 5ª feira (31.jul) para embarque na 6ª feira (1º.ago) e volta programada para 8 de agosto.
O Poder360 entrou em contato com todos os senadores que integraram a comitiva para questionar se desejavam se manifestar sobre os gastos.
Só uma resposta foi enviada, da assessoria de Nelsinho Trad. Leia a íntegra:
“A missão oficial do Senado brasileiro aos Estados Unidos foi aprovada por unanimidade pelo Plenário da Casa e cumpre um papel institucional legítimo: abrir canais de diálogo em um momento de forte tensão comercial entre os dois países.
“O Senado não tem a prerrogativa de negociar tarifas, mas tem o dever de se posicionar diante de medidas que afetam diretamente setores estratégicos da economia e a vida de milhões de brasileiros.
“Durante a missão, conseguimos levar nossas preocupações diretamente ao Congresso norte-americano — e fomos ouvidos. Parlamentares dos Estados Unidos anunciaram iniciativas legislativas e judiciais contra a tarifa de 50% imposta a produtos brasileiros.
“Empresários americanos, por sua vez, alertaram para os impactos negativos da medida sobre a cadeia energética, a indústria alimentícia e a construção civil e se comprometeram a se unir aos esforços brasileiros.
“Após as reuniões da delegação brasileira, diversos produtos foram retirados da lista de taxação adicional, entre eles a celulose, o suco de laranja e insumos da cadeia industrial e alimentar. Também houve a prorrogação de cinco dias do prazo estipulado inicialmente.
“Vale ressaltar ainda que a missão teve o apoio da Embaixada do Brasil em Washington, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), do Itamaraty e da Vice-Presidência da República — e foi composta por uma comissão suprapartidária de senadores unidos em defesa do interesse nacional.
“Todas as agendas foram amplamente divulgadas pela imprensa, registradas nos canais oficiais do Senado Federal e do presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad, que liderou a delegação.
“Os custos da missão seguem normas regimentais do Senado, com valores fixados por ato da Mesa Diretora. As variações entre os gastos ocorrem conforme a origem e o deslocamento de cada parlamentar até Washington. A prestação de contas é pública e auditável.
“Trata-se de uma resposta legítima, transparente e necessária diante de um cenário que ameaça empregos, investimentos e o comércio exterior do Brasil. Sempre dissemos — e reiteramos — que esta missão marca apenas o início de um processo. Porque enfrentar medidas tão complexas exige articulação constante, vigilância institucional e canais permanentes de diálogo.”