Religiosidade
Especialistas explicam o que a Bíblia ensina sobre paternidade
BATANEWS/REDAçãO
Nas últimas décadas, o retrato da paternidade tem passado por uma transformação silenciosa, mas profunda. O antigo modelo centrado no sustento financeiro e na autoridade disciplinar cede espaço a uma compreensão mais ampla e relacional do papel paterno. Em meio a essas mudanças, cresce entre famílias cristãs a convicção de que educar filhos é uma missão que envolve o coração, a fé e o caráter.
A figura do pai tem sido cada vez mais reconhecida como essencial para o desenvolvimento emocional, espiritual e social das crianças. Nesse contexto, a referência bíblica de Deus como Pai não é apenas simbólica — ela oferece um padrão eterno. O próprio Senhor se apresenta nas Escrituras como um Pai que ama, cuida, corrige e caminha com os filhos, como ilustrado em textos como Salmos 103:13 e Hebreus 12:6.
Ao longo da Bíblia, a paternidade divina é revelada com traços claros de amor, justiça, paciência e orientação. Em passagens como Mateus 7:11, Jesus ressalta a bondade de Deus ao conceder coisas boas aos seus filhos. Esse padrão transcende a relação biológica e convida os homens a viverem uma paternidade espiritual, presente e intencional.
Para os cristãos, esse chamado exige mais do que prover e proteger. Demanda a disposição de refletir, em casa, o caráter daquele que é Pai por excelência. “Os pais são os primeiros e mais importantes modelos de comportamento para os filhos', afirma Cris Poli, autora do livro Pais Admiráveis Educam pelo Exemplo (Editora Hábito). Segundo ela, a vivência cristã precisa ser coerente entre o que se fala e o que se vive.
A coerência é justamente o que gera frutos, como ensina o apóstolo Paulo em Gálatas 5:22-23. Paciência, domínio próprio, mansidão e bondade não são apenas virtudes espirituais — são também instrumentos eficazes na formação do caráter dos filhos.
A psicologia contemporânea confirma aquilo que a Palavra de Deus já sinalizava. A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby, mostra que o vínculo seguro com os pais gera equilíbrio emocional e confiança. Crianças que recebem afeto e atenção constroem alicerces sólidos para a vida adulta.
Uma pesquisa da Universidade de Maryland, publicada no Journal of Family Psychology (2016), analisou mais de 10 mil famílias e identificou que a presença ativa do pai está associada a melhor desempenho escolar, maior autoestima e menor envolvimento em comportamentos autodestrutivos. O envolvimento paterno, porém, não se limita ao tempo físico dentro de casa.
“Faço questão de trocar fraldas, colocar para dormir, brincar e dizer que os amo todos os dias, algo que só ouvi do meu pai já adulto', relata Angel Higuera, professor da Escola do Futuro Brasil (EDF). Para ele, o envolvimento diário com os filhos é parte do chamado que recebeu como cristão.
Higuera alerta para uma armadilha comum entre pais cristãos: a ausência justificada. “Muitos se sentem esgotados e acabam terceirizando a educação. Trabalham mais para dar mais, mas percebem tarde demais que estão oferecendo de menos', afirma, de acordo com informações da revista Comunhão.
A formação moral e espiritual das crianças começa em casa. Para Eliton Deola, ex-goleiro do Palmeiras e pai de uma adolescente, a presença do pai é um alicerce inegociável. “A escola ensina, mas é o pai quem molda. Quando ele se ausenta, a criança busca referências em outras fontes, às vezes perigosas', observa.
Mesmo tendo tido um relacionamento à distância com o próprio pai, Deola reconhece a importância desse vínculo na sua juventude. Foi essa ligação que o ajudou a resistir às pressões externas e a evitar escolhas erradas. Essa herança silenciosa — construída mais por exemplo do que por palavras — contribuiu para a formação de seu caráter.
Para Cris Poli, que também atua como pedagoga na EDF, o testemunho dos pais tem impacto duradouro. “A coerência entre discurso e prática é fundamental na educação dos filhos', afirma. Pais que vivem aquilo que ensinam, segundo ela, transmitem confiança, direção e respeito.
Mais do que um papel social, a paternidade é um processo de discipulado mútuo. Enquanto ensina, o pai cristão também é moldado em sua fé, caráter e sensibilidade. O caminho da paternidade exige renúncia, firmeza e graça, elementos que também marcam a caminhada do cristão com o Pai celestial.
A disciplina, por exemplo, deve refletir amor e não violência, como ensina Hebreus 12:10-11, que descreve a correção de Deus como algo que “produz fruto pacífico de justiça'. Ao corrigir os filhos com firmeza e ternura, o pai comunica a imagem de um Deus que corrige porque ama.
Esse discipulado silencioso deixa marcas que perduram além da infância. Os filhos que crescem sob a influência de um pai presente e temente a Deus tendem a levar consigo valores que guiarão suas decisões, sua visão sobre o mundo e, especialmente, sua percepção de Deus.
A redescoberta do papel paterno nas últimas décadas revela uma verdade espiritual profunda: o chamado para ser pai é, acima de tudo, um reflexo do próprio Deus. Ele não apenas provê, mas se relaciona, instrui, corrige e ama com intensidade e fidelidade.
Homens cristãos, ao abraçarem a missão da paternidade, são convidados a viver de maneira coerente com os princípios do Reino. Isso exige intencionalidade, presença e fé — atitudes que, quando vividas com sinceridade, deixam um legado eterno. Seja nos pequenos gestos ou nas grandes decisões, cada pai tem a oportunidade de ser um espelho do Pai celestial. E, nesse reflexo, vidas são transformadas para a glória de Deus.
Via: GospelPrime