Justiça
Exame confirma estupro de Isis e polícia indicia pai e mãe
Inquérito sobre morte da pequena Isis foi encaminhado para o Judiciário pela polícia com indiciamentos pelo estupro sofrido e por maus-tratos à criança
BATANEWS/CORREIO DO ESTADO
O exame necroscópico e sexológico no corpo da pequena Isis Ojeda da Silva, de apenas 1 ano e 9 meses, confirmou o estupro sofrido antes de sua morte, que foi confessado por seu pai. Com o resultado, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o caso, indiciando o pai, Igor Silva de Souza, de 28 anos, pelo estupro e também a mãe da menina, Simiona Ojeda, por maus-tratos.
De acordo com o delegado de Camapuã, Matheus Alves Vital, que investigou a morte da criança, o laudo confirmou os abusos sofridos por Isis e a causa da morte foi asfixia mecânica por sufocação direta, causada por uma obstrução da traqueostomia da menina.
Esse tipo de problema ocorre quando a passagem de ar para os pulmões é impedida por uma obstrução física nas vias aéreas, como no caso de engasgamento com um corpo estranho.
Ainda segundo o delegado, o “inquérito ja foi relatado e encaminhado ao Poder Judiciário. A mãe foi indiciada no delito por maus-tratos”.
O caso gerou comoção no município do interior, já que a pequena Isis sofria de problemas de saúde desde o ano passado, quando fez a traqueostomia.
A menina morreu no dia 9, após dar entrada no Posto de Saúde de Camapuã com insuficiência respiratória. De acordo com a polícia, durante o atendimento médico, os profissionais da área da saúde identificaram que a criança apresentava indícios de abuso sexual e acionaram as autoridades.
Na conversa entre Igor, pai da menina, e a polícia, ele confessou que teria estuprado a própria filha na noite anterior à morte dela.
Aos policiais, Igor contou que estava na casa de uma prima e que ele e a ex-esposa, mãe da menina e também de um menino, deitaram em um colchão na sala com os filhos.
Em dado momento, eles iniciaram uma relação sexual, momento em que o homem teria aproveitado o fato de a ex-companheira não conseguir ver a filha e estuprado a criança ao mesmo tempo em que fazia sexo com a mãe dela.
No dia seguinte, o homem narra que a criança teria acordado bem, mas que, depois que ele saiu para trabalhar, recebeu a informação, por meio de uma agente de saúde, de que ela havia sido levada para o Posto de Saúde do município, onde morreu.
À polícia, Igor alegou que teria estuprado a própria filha, que estava doente, por já ter sido abusado quando criança. O pai alega que precisa de “tratamento médico” em razão de um suposto choque emocional que ele carrega desde a infância por “diversos traumas de abuso infantil”.
O homem afirmou que um primo mais velho havia abusado dele por diversas vezes e que não teria conseguido “segurar seus impulsos sexuais” contra a filha enferma.
Ele foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. Já a mãe da menina, que é acusada de maus-tratos, segue em liberdade.
NEGLIGÊNCIA
Um dia antes de morrer, Isis havia recebido alta do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, em Campo Grande, onde havia sido internada no dia 28 de junho, com infecção na traqueostomia.
Conforme afirmado pelo hospital, quando a criança deu entrada na unidade, foram constatados alguns sinais de negligência, pois ela estava em tratamento respiratório e tinha uma traqueostomia, onde foram encontradas larvas e piolho. Isis também estava com pneumonia quando deu entrada na unidade para tratamento de uma infecção.
“[A criança] recebeu os cuidados necessários, foi submetida a cirurgia para retirada das larvas e troca da cânula, evoluiu bem e recebeu alta. Diante da situação de vulnerabilidade familiar observada durante a internação, o hospital comunicou os órgãos competentes para as devidas providências”, explicou, em nota.
Segundo a prefeitura de Camapuã afirmou em nota, o Conselho Tutelar só teria sido informado sobre o estado de abandono da menina dois dias antes de sua morte, como mostrou matéria do Correio do Estado, e não teria tido tempo para agir porque a criança só chegou ao município na noite anterior à sua morte.
“No dia 7 de julho, o Conselho Tutelar recebeu um ofício da unidade hospitalar de Campo Grande, onde a criança se encontrava internada, apontando indícios de negligência. No entanto, àquela altura, não havia previsão de alta médica que possibilitasse uma intervenção imediata por parte da rede local. Lamentavelmente, [Isis] veio a óbito na manhã seguinte, por volta das 9h”, disse a prefeitura, em nota.
Antes da morte da criança, o Conselho Tutelar alega que já havia feito o acompanhamento da família, no ano passado, mas, como eles se mudaram para Jardim, esse processo foi paralisado e não havia sido retomado, mesmo com a volta das crianças para Camapuã, no mês passado.
O fato também foi investigado pela Polícia Civil, já que tanto Isis quanto seu irmão mais velho, de 2 anos e 9 meses, ficavam sob os cuidados da mãe, pois os pais eram separados. Por isso, a mãe acabou indiciada por maus-tratos.
O filho mais velho do casal, conforme reportagem do Correio do Estado, foi retirado do convívio de ambos e entregue a outra família, por meio do programa Família Acolhedora.
De acordo com os autos da solicitação da medida protetiva, aos quais o Correio do Estado teve acesso, no dia da morte de Isis seu irmão foi encaminhado pelo Conselho Tutelar para o acolhimento familiar.
Isso se deu por conta da “possível situação de risco e vulnerabilidade social vivenciada pelo infante e suspeita de abuso sexual”, conforme o Conselho Tutelar afirmou em documento solicitando a medida protetiva. O caso agora está em segredo de Justiça.
SAIBA
Após a morte da menina, moradores de Camapuã, revoltados com a notícia, protestaram em frente a casa da criança. A mãe de Isis teve de ser escoltada pela Polícia Militar para não ser agredida.