Arias diz que decisão de sair foi 'difícil e de cabeça fria' e vê relação 'pausada'

Colombiano deu adeus ao Flu, mas garantiu que irá retornar na última entrevista antes de deixar o Brasil rumo ao Wolverhampton

BATANEWS/GE


Campeão e ídolo do Fluminense, Arias acredita estar caminhando para o maior desafio na carreira ao aceitar a proposta do Wolverhampton, da Inglaterra. Ainda que o adeus tenha sido motivado pelo sonho de jogar na Europa, o colombiano garantiu, em entrevista exclusiva ao ge, que a decisão foi complicada, mas tomada com frieza. No entanto, este não será o fim da história, pelo menos não se depender do jogador.

— Foi uma decisão difícil, tomada com a cabeça fria, tendo certeza de tudo que a gente tem no Fluminense e o que representamos aqui. Mas também sendo fiel à minha essência e meu sonho. Fazer isso é o que tem me levado a ter sucesso. Foi uma decisão muito pensada e trabalhada, mas que tomo em paz sabendo que era uma oportunidade muito boa para o clube e para mim. Fico grato ao Wolverhampton por me abrir as portas para conseguir realizar meu sonho. Estou com a expectativa de conseguir grandes coisas na Inglaterra — afirmou o jogador.

— Acredito que nosso relacionamento não está se encerrando, mas pausando.

O adeus foi cercado de emoção, mesmo quando Arias nem poderia imaginar o que viria pela frente. Durante a Copa do Mundo de Clubes não houve nenhuma conversa sobre a possível saída, mas já era imaginado que essa chance existia, especialmente pelas grandes atuações nos Estados Unidos. Depois de chorar copiosamente na eliminação, o meia-atacante garantiu que nunca pensou que aquilo pudesse marcar a despedida.

— Nunca passou pela minha cabeça. Ainda não tenho uma dimensão total do que conquistamos nos Estados Unidos porque está tudo muito recente. Mas nunca pensei que estava fazendo a despedida, era na ambição e gana de vencer para trazer o título. Deixamos o nome do Fluminense no topo.

A relação foi intensa e fez de Arias uma referência no time. Não apenas pela parte técnica, mas também no lado físico. Em diversas oportunidades, o atleta deixou de lado a possibilidade de ser poupado para tentar ajudar. Um exemplo, além das Datas Fifa, foi na estreia da atual temporada. Ele tinha previsão de jogar por 30 minutos, mas se sacrificou para ficar a partida inteira em campo. Na ocasião, ele disse que quando joga com essa camisa, consegue "fazer coisas além do natural". Ali, declarava o amor pelo Fluminense e prometeu se dedicar enquanto estivesse com saúde.

— Vivi muitas coisas. Quando passa o tempo você vai criando essa identificação e sinergia com o clube, a torcida, o dia a dia. A frase é sobre coisas que eu sentia e conseguia fazer dentro do campo. É difícil explicar, é além do racional e do sentido humano, digamos assim. Depois de toda Data Fifa, eu tinha sugestões da seleção e do departamento de fisiologia para não jogar pelo intervalo curto. Quase sempre jogava com menos de 24 horas de repouso. Se pegar fisicamente falando, é quase impossível. Já é difícil jogar a cada três dias, imagina com menos de um dia de intervalo. E eu conseguia — disse.

— Jogava com prazer, carinho, tranquilamente. Eram coisas que eu conseguia fazer só por se tratar do Fluminense e dessa camisa que tenho um carinho enorme. Se vivenciava também no Maracanã tantas vezes que o cenário era difícil ou adverso para nós e conseguíamos ter esse gás a mais, a energia extra para sair com um placar aberto. Às vezes ao contrário das previsões e do que todo mundo esperava. Conseguíamos fazer coisas, como eu disse na frase, além do natural — completou.

Arias viveu um pouco de tudo desde que chegou ao Fluminense em agosto de 2021. Após um início apagado, em que sofreu com problemas familiares depois da perda da avó, o colombiano se firmou como um dos principais jogadores da equipe e do futebol brasileiro. Ele foi peça importante na conquista da Libertadores e na Recopa Sul-Americana.

— Com certeza eu saio como um homem diferente. E um jogador diferente, muito mais maduro e completo. O Fluminense me proporcionou até agora o melhor momento da minha carreira. Um apoio que vai muito além de uma relação clube e jogador. Teve essa sinergia além do profissional. Agradeço muito, sou orgulho de fazer parte da história. Não teve melhor lugar para fazer toda essa história.

Arias terá a companhia de velhos conhecidos na Inglaterra: André, ex-companheiro de Fluminense, e João Gomes, rival dos tempos de Flamengo. Além disso, será comandado por Vítor Pereira, a quem já enfrentou quando o português estava no Corinthians e o Fla.

— Também foi uma coisa que levamos em consideração. O André é um grande amigo meu, vivenciamos momentos de glória no clube e é próximo a mim. Vai me ajudar na adaptação. O João é um grande jogador que enfrentei diversas vezes. Eles dois são dos melhores do mundo na posição deles. São pessoas que me deixaram mais tranquilo na tomada de decisão. O Vítor eu conheço, tivemos um primeiro contato no Brasil. Uma pessoa que me expressou que tinha o desejo de trabalhar junto, acredita em mim e que podemos ter sucesso na Europa.

A imagem final que fica é do último gol: de falta, na Copa do Mundo de Clubes. O primeiro desta maneira e o marcou o fim da relação. Arias, que treina muito esse fundamento para ser ainda mais completo, acha que essa foi a maneira perfeita de encerrar a história.

— Que golaço (risos). Já assisti de vários ângulos. É um dos mais bonitos da minha carreira. Se eu pudesse escolher, seria ele para ser o último pelo Fluminense. Foi um lindo gol que sintetiza muita coisa — finalizou.

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Sentimento de sair

— Foi uma história muito linda. Eu já tinha passado por vários clubes na Colômbia e já tinha títulos, mas tem um gosto diferente e especial no Fluminense. Esse sentimento foi a primeira vez que experimentei. Foi algo muito bacana que transbordou não só em mim, mas na minha família. Minha história no clube não é só gratificante para mim, é também para a família.

O que vai mais sentir falta do dia a dia?

— O carinho que os companheiros têm. O Fluminense tem um grupo muito humano, humilde. São caras que se doam um pelo outro. É um grupo bastante unido. São grandes jogadores, atletas profissionais. Vamos sentir falta do dia a dia, a resenha, a viagem. Mas no futebol se tem essa certeza que vamos nos encontrar de novo, os caminhos vão se cruzar. Levo a felicidade que eles tiveram quando souberam que ia sair. Não é só a minha realização, tomara como a realização deles. Não (tentaram convencer a ficar). Eu só tive mensagens de parabéns, que estava conseguindo algo pelo qual lutamos juntos. Eles sentiam que faziam parte de tudo que estava alcançando, estavam felizes. Teriam saudades, mas que eu fosse em paz.

Fernando Diniz

— Com certeza o Fernando foi o mais próximo de relação, o que mais tempo trabalhei. Nos conhecemos muito mais. Temos uma relação que vai muito além do profissional e do campo. Considero ele um amigo. Sou grato a cada um deles, com Fernando tenho uma relação mais próxima e marcante, mas cada um deles com sua maneira e intensidade deixou uma marca boa em mim.

DVD do Renato

— Deixei mesmo (risos). Depois pergunta a ele. Fiquei sabendo da brincadeira dele com o DVD e depois do jogo dei o DVD a ele. Falei para usar na futura preleção para incentivar os jogadores. Ele ficou rindo, agradeceu e falou que não podia dar um DVD dele para mim porque eu ia ficar louco e a cabeça ia explodir. Mas, brincadeiras a parte, o Renato é sensacional. Muito gente boa, que chegou com muito respeito por todos e com certeza fará ainda mais sucesso do que já fez na Copa do Mundo de Clubes.

O que falaria para a torcida de despedida

— Só agradecer. Não tenho muita coisa que poderia falar além de agradecer por todo carinho, respeito que tiveram comigo e minha família nesse tempo. Por tudo que nos proporcionaram. Seriam só palavras de gratidão. As poucas coisas que eu falo são dentro do campo, no lado profissional, que é como eu gosto de falar.