Esportes
Rogério Ceni se declara ao São Paulo de 2005: 'O time com mais alma e coração que eu joguei'
Tri do Tricolor na Libertadores, que teve o ex-goleiro como líder e capitão, completa 20 anos nesta segunda-feira
BATANEWS/GE
Cinco gols marcados, 1.260 minutos em campo com a braçadeira de capitão. Um líder. A importância e a história de Rogério Ceni na conquista do terceiro título do São Paulo na Conmebol Libertadores de 2005 podem ser contadas de diversas maneiras. Pelos gols decisivos, a liderança no vestiário, as defesas igualmente importantes...
Apesar de ter feito parte do elenco que conquistou o título da Libertadores em 1993, o primeiro com importância pelo que fez dentro de campo foi exatamente há 20 anos. No dia 14 de julho de 2005, Rogério Ceni levantava a terceira taça do São Paulo na competição continental depois da vitória por 4 a 0 sobre o Athletico, no Morumbis lotado por 71.986 torcedores.
O ídolo tricolor viveu de tudo no clube. Foi do gol à beira do campo, passando pelas cobranças de falta inesquecíveis. Conquistou tudo. Campeão paulista, da Recopa, da Supercopa da Libertadores, do Mundial, da Copa Conmebol, da Copa Master Conmebol, do Rio-São Paulo, do Campeonato Brasileiro, da Sul-Americana e, claro, da Libertadores.
Foram 25 anos como jogador do São Paulo, de 1990 a 2015. Mas 2005 tem um lugar especial no coração do ídolo tricolor.
O time de 2005 era fantástico, como ser humano. Eram pessoas fora de série. Acho que era um time que se complementava. Se eu disser que era o time mais técnico e bonito, acho que não. O de 1992 e 1993 era um time mais técnico. Se eu disser que era o time com mais alma e coração que eu joguei no São Paulo, aí eu posso dizer que sim.
Para Rogério Ceni, o time campeão de 2005 também era forte por outros motivos .
– Uma zaga muito forte, jogava com Lugano, Fabão, Edcarlos ou Alex. Um time muito físico, jogava muitos jogos em bola parada, escanteios, laterais, faltas. O time tinha essa virtude. Competia muito. Talvez não tenha sido o mais brilhante tecnicamente, mesmo com o Junior, Amoroso, o Danilo, que todos achavam que era lento, mas era um p... jogador. Cicinho quase como um ala, vindo por dentro, fora.
E tinha o restante, nós, lá atrás, que segurávamos. Os três zagueiros normalmente, dois volantes, o Aloísio, que segurava todas, o Grafite... Era um time de força física. Um time feito para ganhar. Não era o time que talvez jogasse o futebol mais bonito, mas era um time talhado para ser campeão. Foi totalmente justo ser campeão daquela Libertadores – disse Rogério Ceni.
Capitão em 2005, o ídolo tricolor já estava no clube em 1992, ano do primeiro título do São Paulo na Libertadores, mas ainda no sub-20. Na temporada seguinte, no bicampeonato, era reserva de Zetti. Até 2005, muitos capítulos da longeva história de Rogério Ceni no Morumbis foram escritos.
O ídolo ganhou importância principalmente pelo que fazia dentro de campo, mas sua liderança no dia a dia do CT da Barra Funda sempre chamou atenção. E esses 12 anos foram suficientes para que o garoto reserva de Zetti virasse um dono incontestável do gol tricolor. Tão incontestável que o substituir, após a aposentadoria, virou um fardo pesado para ser carregado.
Para Rogério Ceni, mesmo com outros títulos importantes em outras temporadas, o ano de 2005 serviu para completar um ciclo especial no clube.
– Para mim é muito especial. Eu pude viver 1992 e 1993, mas não como protagonista. No banco de reserva. Depois, eu queria ter essa emoção de ganhar jogando, como capitão do time. Foi um momento muito especial, 2005,12 anos depois de 1993. Chegar ao título foi o complemento de um ciclo que começou muito jovem, aos 17 anos, e foi culminar em 2005, aos 32. Para você ver como é difícil ganhar uma Libertadores.
– Foi o fechamento de um ciclo, que ainda teria mais três títulos importantes brasileiros, a Copa Sul-Americana. Mas aquele título de 2005 foi o complemento de um ciclo dentro do São Paulo – lembrou Ceni.
A final, há exatos 20 anos, teve um placar elástico. Depois do empate em 1 a 1 no Beira-Rio, o São Paulo venceu o Athletico por 4 a 0 no Morumbis. Aos olhos de quem vê de longe, tanto tempo depois, a impressão de facilidade se sobressai.
Para muitos que fizeram parte daquela conquista, os dois jogos contra o River Plate, no Morumbis e na Argentina, foram os grandes duelos da Libertadores. O São Paulo venceu em casa e perdeu fora. Teve de enfrentar a pressão argentina, uma recepção à chuva de pedras e, claro, a forte equipe adversária, também tradicional na Libertadores.
Rogério Ceni, porém, discorda.
– Acho que a partida decisiva foi contra o Athletico. O River no Morumbi foi um jogo perfeito que tivemos. Não deixamos o River finalizar e vencemos. Fiz até o segundo gol desse jogo nos acréscimos, num pênalti marcado pelo assistente, que o árbitro não deu. Foi até curiosa a atuação dele naquele jogo.
– Vencemos por 2 a 0 e depois fomos jogar na Argentina, e aí o Danilo, se não me engano, faz o primeiro gol. Aí acabamos vencendo os dois jogos. Mas sem dúvida nenhuma a final (foi mais decisiva)... Não adianta fazer algo contra o River. Todo jogo é importante. Mas jogar no Morumbi com 70, 80 mil pessoas. Foi um primeiro tempo difícil, pesado. Estava 1 a 0, o Athletico perde um pênalti. Aí construímos com Fabão, Luizão, Tardelli.
Com a memória em dia e o coração preenchido pela conquista que, como ele mesmo diz, coroou uma história no São Paulo, Rogério Ceni respira aliviado e diz:
– Aquele time tinha que ser campeão. Tinha alma de competidor. É um título completamente justo conquistado por todos que participaram daquela conquista.