Agronegócios
Sobretaxa imposta pelos EUA isola Brasil, agrava crise econômica e desafia diplomacia
Medida atinge em cheio exportações brasileiras, pressiona o agro e escancara impacto político das tensões entre Brics e país norte-americano.Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) LinkedIn Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela) Telegram
BATANEWS/O PRESENTE RURAL
A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada por Donald Trump a partir de agosto, acendeu o alerta máximo no setor produtivo nacional.
Advogado tributarista Ranieri Genari, a medida representa um duro golpe à economia nacional: “O episódio expõe o isolamento do Brasil no cenário internacional e ameaça setores estratégicos como agro e indústria” – Fotos: Divulgação/Assessoria
A decisão, com claro componente político, surge após declarações críticas ao governo norte-americano durante a cúpula dos Brics e escancara a fragilidade da atual condução diplomática brasileira. “O imposto de importação é imposto unilateralmente pelo país importador. Não há o que fazer. Os países que desafiarem sofrerão essa sobretaxa. Hoje depende mais do governo brasileiro do que do americano”, alerta o especialista em Direito Internacional Empresarial e mestre em Direito, Marcelo Godke.
Para o advogado tributarista Ranieri Genari, a medida representa um duro golpe à economia nacional: “O episódio expõe o isolamento do Brasil no cenário internacional e ameaça setores estratégicos como agro e indústria. Sem espaço para reação jurídica, resta ao governo agir com maturidade e recuperar o canal de diálogo. Caso contrário, corremos o risco de mergulhar num ciclo de retração econômica, perda de competitividade e fechamento de empresas”, ressalta.
“É mais um componente da tempestade perfeita que assola a economia: alta carga tributária, juros recordes, perda de confiança de investidores e consumidores”, observa o advogado Luís Garcia
Além das tensões políticas, o impacto econômico é imediato. A indústria de transformação, o setor de petróleo e os bens manufaturados estão entre os mais afetados. O agronegócio, que representa 29% do PIB, também deve sofrer perdas bilionárias, especialmente com carne bovina, café e suco de laranja. “É mais um componente da tempestade perfeita que assola a economia: alta carga tributária, juros recordes, perda de confiança de investidores e consumidores”, observa o advogado Luís Garcia.
Segundo ele, setores como o aeronáutico (Embraer), de commodities e alimentos terão que reduzir preços para tentar manter competitividade. “Os papéis dessas empresas devem se desvalorizar, com queda no Ibovespa, fuga de investimentos e aumento do desemprego. Nenhuma alternativa compensa totalmente as perdas com essa decisão dos EUA”, avalia.
Direito Internacional Empresarial e mestre em Direito, Marcelo Godke alerta: “O imposto de importação é imposto unilateralmente pelo país importador”
Na esfera tributária, o cenário é igualmente desafiador. Como explica Godke, não há tratado para evitar a bitributação entre Brasil e Estados Unidos. “Empresas brasileiras que operam nos EUA devem consolidar o balanço e tributar no Brasil, mesmo com imposto já pago lá fora. Uma das estratégias possíveis é centralizar a operação nos EUA e separar o lucro local do lucro da controladora brasileira”, orienta.
Ele destaca também o uso pontual de trusts e regras de preço de transferência como mecanismos de planejamento, desde que bem documentados e em conformidade com a legislação.
Diante das incertezas, a pressão sobre o governo brasileiro aumenta. Para o tributarista Marcelo Costa Censoni Filho, o país precisa reavaliar sua inserção internacional: “A retaliação anunciada por Trump, com menção direta ao ex-presidente Bolsonaro como interlocutor preferencial, mostra que o Brasil deixou de ser considerado um parceiro confiável. A resposta precisa ser institucional, firme e pragmática, com foco na reconstrução da confiança diplomática e comercial”, salienta.
Para o tributarista Marcelo Costa Censoni Filho, o país precisa reavaliar sua inserção internacional: “A retaliação anunciada por Trump, com menção direta ao ex-presidente Bolsonaro como interlocutor preferencial”
Enquanto o governo estuda a aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica, que poderia retaliar produtos norte-americano, entidades como a Frente Parlamentar da Agropecuária pedem cautela e diplomacia. A médio prazo, apontam especialistas, será essencial diversificar mercados e adotar estratégias fiscais e comerciais que preparem as empresas brasileiras para navegar em um cenário global cada vez mais instável.