Marta diz viver um dia por vez no futebol e reflete sobre Copa de 2027: 'É muito cedo dizer se vou jogar'

Sonho de engravidar é o que motiva a camisa 10 fora dos gramados e a faz pensar em parar: "Ainda tenho o desejo muito forte de ser mãe". Confira a entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular

BATANEWS/GE


Foto: Divulgação

O tempo em que Marta carregava a responsabilidade de resolver os jogos para o Brasil passou. Hoje, ela pode dividir com uma nova geração esse papel na seleção brasileira. Isso a faz aproveitar ainda mais os momentos com a camisa amarela. Atualmente, aos 39 anos, ela quer curtir cada detalhe do futebol. Não mais com a obrigação de ter que provar, mas sim de desfrutar dessa fase madura. A pergunta sobre "até quando?" não a incomoda. E ela não trabalha com prazos. Vive o dia a dia da bola. Ainda nutre o sonho de ser mãe, engravidar e é atualmente o desejo que pode, quem sabe, fazer ela se despedir dos gramados ali na frente.

- Sempre eu vou estar, de alguma forma, agora, jogando é difícil, porque até agora a gente não descobriu como fazer isso, se tiver um jeitinho, se tiver, mas eu não sei cara, eu não sei como é que vai ser, sabe, eu não sei como é que vai ser daqui a um mês, o que eu sei é que eu estou vivendo esse momento agora, estou aproveitando o máximo dessa preparação pra minha última Copa América e eu quero terminar com uma imagem muito bonita, levantando a taça, curtindo com as meninas o máximo possível, então eu sei que isso tá muito próximo e é o que eu estou pensando agora, após isso eu já não sei mais, pode ser que eu volte para Orlando e chegue pra ele e fala assim ó, já deu pra mim, não dá mais, já era e pronto.

- Então eu estou nessa vibe, de viver o momento, de viver intensamente cada detalhezinho da convocação como o professor fala. Então se eu estou vivendo esse momento positivamente com o meu clube e me trouxe até aqui para estar na seleção, eu quero também viver intensamente isso aqui. Agora não me pergunte daqui a um mês ou dois meses, ou um ano, o que vai acontecer. Eu tenho mais um ano de contrato lá depois desse, mas não sei. Não sei porque fica aqui na minha cabecinha, ainda tenho o desejo muito forte de ser mãe. Então assim, pode ser que eu acorde um dia e decida, ligue para meu médico, vamos ver se ainda dá pra fazer o sistema acontecer. Se der, tchau, I have to go now - disse Marta em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular comentando sobre o processo para poder engravidar.

Dona de seis títulos de melhor do mundo, Marta é o ícone quando se fala em futebol não só no Brasil, mas no mundo. O segredo de seguir na seleção brasileira tem a ver com toda a carreira que construiu. E o desejo diário de seguir vencendo. O futuro segue com o objetivo ali na frente: conquistar mais um título de Copa América, o seu quarto na carreira. Para o Brasil, a busca é pelo nono título em 10 edições. Se a Marta dos gramados está realizada, para a Marta fora deles a maternidade é o principal objetivo.

- Sim, é muito bom jogar futebol. Eu adoro. A minha vida sempre foi isso. Sempre me dediquei. Quando eu entro em campo, a emoção é a mesma, sabe? A gana é a mesma de ganhar, de fazer acontecer. Mas ninguém vai jogar para sempre, né? Tem algumas coisas que o tempo também não me ajuda, né? Se eu quiser isso, eu não posso ter isso. Então, assim, vamos viver o momento.

O amanhã, a Deus pertence. Se Ele colocar dentro de mim, do meu coração, é o que eu vou seguir. Mas dizendo mais, sempre que vocês me verem dentro de campo, com a seleção ou com o meu clube, é porque eu ainda tenho essa paixão e eu vou dar o meu melhor. Sempre. Sempre. Ainda acho bacana, acho legal acordar 6 horas da manhã todo dia (risos)para treinar. Depois disso, se eu não sentir mais isso, é porque não é para continuar como atleta. Talvez como atleta de pelada, de final de semana. Aí vocês não vêm me cobrar também, tá (risos)? Aí a pressão acaba um pouquinho porque a minha vida inteira foi pressionada. Tem que jogar bem, tem que não sei o que, tem que ganhar com a seleção, tem que ganhar com o clube. Aí, depois que eu pendurar (as chuteiras), não tem que ganhar nada, tem que ficar em casa de boa na lagoa, jogar quando quiser e treinar quando quiser e tal. Não chegou ainda, mas não te garanto se está longe ou está perto.

- Tanta coisa legal (no futebol). Eu quero aqui, o meu sonho agora é a Copa América. E eu vou lutar com essas meninas para a gente conquistar. Mas, tirando o futebol de lado, o meu sonho é ser mãe. Acho que duas (crianças) está bom, né? Eu um e Carrie (noiva) tem o outro e daí está tudo certo. E a gente tem o Zé também. Está bom já. E tantos outros no canil lá em Dois Riachos. Então está tudo ótimo. A Marta do gramado se realizou. E a Marta, pessoalmente falando, o que falta pra ela? A maternidade. Uma Martinha aqui. E, então, para jogar futebol eu empresária dela e tudo certo. Pode ser também (menino). Tem nome para os dois. O nome vamos deixar no ar.

A Copa do Mundo de 2027 será no Brasil. A pergunta que Marta mais escuta é se ela estará na competição que ocorrerá pela primeira vez em casa e também pela primeira vez na América do Sul. Mais uma vez, ela garante que não quer programar algo que vai acontecer daqui a dois anos. Ela sabe e reforça que só estará com a equipe se tiver condições técnicas e estiver em um bom momento com seu clube e seguir tendo a motivação diária para trabalhar em campo.

- Vontade a gente tem, mas a gente tem que ser realista, né? Eu estou num momento que eu não quero programar uma coisa daqui a um ano. Eu quero programar o que eu posso e que eu acredito que eu posso realizar agora. Então eu não tenho essa resposta. As pessoas perguntam, a Marta ainda está na seleção, então ela vai jogar a Copa? Eu não sei. Se em 2027 eu estiver jogando ainda, estiver bem, eu acho que eu tenho chance. E aí o Arthur, como ele sempre falou, ele vai sempre trazer as melhores que estão bem no momento. Então é nisso que eu tenho que pensar.

Eu não tenho a resposta sempre e não tenho como te dizer, ah, eu vou jogar a Copa de 2027. Não, porque eu não sei se eu vou ter essa motivação tão grande pra me manter na ativa, treinando, jogando. Exige muito de você. Se já exige de mim agora, na idade que eu estou, eu vou estar com 41 na Copa, está tudo certo, gente. Apesar da galera falar que a Copa já está aí, já batendo na porta. Para mim é muito cedo dizer que eu vou jogar, porque para mim não está tão perto, entendeu? Eu teria que trabalhar mais um aninho e pouquinho aí, dois anos, digamos, para chegar bem na Copa.

- Então assim, o que acontece comigo no dia a dia, no meu trabalho, nos meus treinamentos, com a minha família, é o que vai me dando a resposta se é isso que eu quero, se é isso que realmente faz sentido, ou não. Eu contribuí até onde eu pude e eu acho que as meninas estão prontas, elas vão lá e vão ganhar a Copa e eu vou curtir como se eu estivesse jogando também, caso eu não esteja, porque isso foi a minha vida. Sempre fui pautada em estar aqui na Seleção Brasileira e eu sempre deixei bem claro que em qualquer circunstância se me ligarem, se me chamarem, eu vou estar sempre à disposição da Seleção para contribuir. Me ligaram aí ó, mas aí eu ainda estou como atleta, então eu estou aqui pra contribuir como atleta.

Na seleção brasileira, Marta também vive um novo momento em relação ao seu posicionamento. Ela tem mais liberdade na parte ofensiva, mas garante que não há privilégios na equipe e todas precisam contribuir e não ficar paradas.

- Ninguém fica parada aqui. Aqui não, na seleção não dá. No clube, em algumas situações, eu tento pegar alguns desvios. Porque, puxa, hoje em dia não dá pra toda hora você desafiar um contra um. Ou partir pra cima e tal. Então eu tenho que pegar alguns desvios. Mas ao mesmo tempo também trabalhando com que a nossa equipe consiga manter a equipe com a posse de bola. Então às vezes vai ter a hora de atacar. Mas vai ter a hora também de segurar um pouquinho. Respira um pouquinho.

Segura a bola um pouquinho. A gente está fazendo isso de uma maneira, de uma maneira controlada. Por outro lado, se você pegar os últimos jogos da seleção, não dá para ficar parado, porque defensivamente é isso. Ofensivamente, a gente tem um pouco mais de liberdade, mas a gente tem um plano a seguir, então a gente não foge muito desse plano.

O novo compromisso com a seleção brasileira começa neste domingo. O Brasil estreia na Copa América diante da Venezuela, às 21h, em Quito, no Equador - o Sportv transmite ao vivo. Para a rainha, a equipe, como favorita, entende a responsabilidade de disputar o torneio, que classifica as duas primeiras seleções para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028.

- O Brasil é o favorito, e a gente sabe que é o favorito, a gente sabe dessa responsabilidade. São nove edições, a gente sonhou oito. Então, assim, a gente sabe que a gente tem essa responsabilidade de trazer o título. A gente vai para trazer o título. Só que, assim, não adianta ser só favorito e não desempenhar, não fazer as coisas acontecer dentro de campo. Então, a gente tem essa consciência também. Mas não dá para esconder que todo mundo vê o Brasil como o favorito maior na Copa América, até porque o histórico mostra. Então, a gente tem que saber e lidar com essa responsabilidade de maneira que a gente possa transformar isso em leveza e motivação para fazer o nosso trabalho e voltar com o título.

Se dentro ou fora de campo, Marta espera uma grande Copa do Mundo feminina de 2027 no Brasil. Ela ressalta o papel importante do torcedor brasileiro. Sobre a lista definitiva, a craque de todos os tempos celebra o grande número de jogadoras talentosas que o Brasil possui e a "dor de cabeça" que Arthur Elias terá para escolher a lista definitiva para a competição.

- Eu espero que o brasileiro possa realmente seguir a nossa tradição, quer saber fazer uma linda festa, aproveitar o momento, receber as pessoas super bem, aproveitar essa competição que, poxa, é única para o nosso continente aqui, para a América do Sul, que é a primeira Copa da categoria adulta. Então, assim, que eles possam realmente jogar junto com a gente, sabe? Apoiando, acompanhando os jogos, o brasileiro nato, que sabe curtir um grande evento e que sabe receber as pessoas. Dentro de campo, eu acredito muito no trabalho que o professor Arthur vem fazendo.

Então, quando chegar o momento certo, que for a hora dele decidir, as atletas que irão representar o nosso país, vão ser as melhores, com certeza, porque, graças a Deus, a gente tem uma geração. Muito competitiva no bom sentido e muito talentosa, então ele tem um produto e ele está trabalhando muito bem esse produto, ele tá dando oportunidade de um modo geral para todo mundo e ele com certeza vai ter uma dozinha de cabeça para escolher, mas vai escolher as melhores pra representar e eu tenho certeza que a gente vai fazer uma grande Copa.

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Papel de Marta com as mais novas

- Só de estar em uma seleção a gente já carrega uma responsabilidade muito grande. A expectativa é a mais alta possível sendo nova ou experiente. A responsabilidade é muito grande. Então se você parar para pensar o quanto essas meninas se sentem pressionadas por estarem aqui e ter que mostrar serviço você não tem nem que comentar nada sobre algo que seja o contrário do que realmente deixar elas super à vontade. Eu sou igual a você, ninguém é melhor do que ninguém. Quando você se coloca no mesmo nível que elas, questão de humildade de também ter a curiosidade de saber da vida delas, conversar bater papo, dar abertura para elas falarem, se sentirem à vontade. Tira um peso um pouco.

Marta tem noção da sua representatividade para o futebol?

- Eu vou ter noção de tudo isso realmente quando eu pendurar as chuteiras. Eu costumo dizer que eu não gosto de pensar muito, focar muito no que as pessoas falam de mim. É bom ouvir que a gente conseguiu mudar o cenário do futebol feminino de alguma maneira com muito esforço, muito trabalho, muita luta, persistência. Ainda estou jogando, quero manter o foco no futebol. Deixa que os outros falem e eu vou seguindo em frente. O que eu escuto de pessoas que de tanto ouvir param de fazer o que realmente o que é necessário fazer. Graças a Deus eu tenho o privilégio de ainda estar em atividade, de estar contribuindo com o futebol feminino como atleta. Obviamente uma hora ou outra a gente sempre dá uma palavrinha de apoio, apoiando principalmente essa geração nova, mas quero pensar nisso um pouquinho mais para frente quando eu parar de jogar. Aí vou focar um pouco mais nisso. De uma certa forma achar um caminho para continuar contribuindo com o nosso futebol.

Sempre em atividade

- Eu não gosto de ficar parada mesmo não. Quando fico parada demais eu começo a ficar incomodada. Aí vou na cozinha, pego um café, falo com a galera toda que trabalha lá, encontro o pessoal no corredor e as meninas estão onde? Descansando, isso é aquilo. Esse é meu jeito de ser. Eu tenho muita energia. Sou hiperativa e estou sempre procurando me comunicar com as pessoas que estão ao meu redor. Passei de uma certa forma a valorizar ainda mais o momento, o local, o ambiente, a companhia porque sei que isso não vai ser para sempre então eu quero viver intensamente os últimos anos de carreira. Mas por outro lado é algo meu. Não consigo ficar parada, não gosto de meditação, não consigo. Parece que tem uma formiguinha que fica me perturbando. Ah, 10 minutos, fecha os olhos, pensando em alguma coisa. Não está dando certo. Fecho olho, olho para o lado, isso é de mim.

Precisamos de mais Martas ou mais mulheres mesmo?

- Tem outras mulheres, não tem que vir mais Martas, não tem que passar pelo que a gente passou. É por isso que até hoje a gente luta para que o que a gente conquistou até aqui não seja perdido na trajetória, no decorrer do caminho. Seja acrescentado mais ainda melhorias, seja acrescentado mais responsabilidade de ambas as partes, porque não adianta você só pedir, pedir, mas você também não saber que você também tem uma responsabilidade, mas as meninas que hoje estão usufruindo do que a geração passada lutou para chegar a esse patamar, que elas tenham essa consciência, mas não necessariamente elas têm que passar por sofrimento, por falta de investimento, por falta de material, por falta de opção de campo, locais, por falta de visibilidade. Porque a gente lutou pra isso.

Então usufruam e entendam que vocês têm que dar continuidade a esse trabalho, pra que cada vez mais a gente possa ter uma igualdade com relação a isso. Então que não venha mais Martas, mas venham tantas outras mulheres, digamos, com o caminho mais asfaltado, sem muito buraco. Tive que pegar um ônibus três dias e sair de Alagoas pra chegar no Rio de Janeiro. Venham de avião que é mais fácil, mais tranquilo, mais confortável, chega mais rápido. Mas história é importante. Motivar é mostrar que nada é impossível, mas não necessariamente tem que ser sempre difícil. A gente lutou para caramba para ter uma possibilidade maior, ter uma oportunidade, ter condições de sobreviver do futebol, de ser reconhecida como atleta profissional de futebol.

Então, por que que a gente tem que, de uma certa forma, torcer para que a geração passe por isso também? Ou esteja sempre agradecendo? Então, não, você sabe da sua responsabilidade. Gratidão é aquilo que a gente tem que ter mesmo em todos os sentidos, na vida. Mas, você não tem mais que pagar por isso. Você tem só que seguir, seguir em frente e fazer o seu melhor. Aproveitar que você tem, hoje, o que a gente tem no futebol fulmino aqui no Brasil. E não é só no Brasil, né, no mundo inteiro. Em alguns lugares, melhor que outros. Champions hoje tem uma visibilidade muito grande.

Naquela época eu fui para o Umeå IK e joguei a Champions League e mal se falava da Champions League. Obviamente, aí você tem na primeira fase jogo em um gramadinho mais ou menos, mas poxa, aí você vai jogar uma final e é onde? Nos melhores gramados. A Champions evoluiu, mas para que isso tivesse acontecido, teve gente que teve que comer o pãozinho que o diabo amassou para melhorar. Mas agora não há essa necessidade. Graças a Deus que não tem que ter essa necessidade.

O futebol feminino já está evoluído o suficiente no Brasil?

- Não é o suficiente, porque realmente nem todas as atletas de uma equipe aqui no Brasil, que não seja uma equipe de ponta, não tem que trabalhar em uma outra opção, porque o futebol vai te dar essa oportunidade de viver somente disso. Não é igual, ainda não é. E está um pouquinho longe de ser nesse sentido. Então, se a gente pegar umas, sei lá, imagina umas quatro equipes, ou vai botar seis equipes da elite do futebol, eu acredito que ainda dá pra viver na atualidade agora, mas aí você tem que pensar no futuro.

O que é que eu vou fazer depois de parar de jogar? Melhorou em questão de salário? Em questão de, talvez, de visibilidade? Mas a gente ainda vê um atleta ou outra reclamando da condição do campo, foi jogar uma copa não sei onde, na logística. Então, assim, ainda tem problemas. Por outro lado, a gente vê que tem mais material humano. Tem muito mais atletas no Brasil que estão jogando. Tem mais mulheres trabalhando no meio do futebol feminino, tem comentaristas mulheres... Eu fico muito feliz de ver tudo isso. A gente começou a plantar uma semente aqui, ali.

Convivência saudável com as mais novas na seleção brasileira

- É muito saudável, porque eu costumo dividir experiências boas com elas. Quando eu falo de uma situação que eu vivi, não é de uma certa forma, porque você tem que valorizar isso aqui. É fazer com que as meninas se sintam à vontade, porque é dessa forma que eu acredito que elas podem extrair o melhor delas da equipe. Se ela errou um passe ou errou um gol, o importante é tentar, mas tenta ser um pouquinho mais objetiva. Não ficar naquele, ah, eu vou fazer isso, eu vou fazer aquilo. Não, tenha um objetivo, vai lá, tenta, se você não fizer, eu vou estar do seu lado, vou te apoiar.

Não tem cobrança nesse sentido, a cobrança é quando você não faz nenhuma coisa nem outra, aí fica meio que perdido no meio do caminho. E encare a situação como algo muito positivo. Cara, você está aqui, se você está aqui é porque você é especial, é porque você tem talento, é porque você se destacou. Não é porque você é bonitinha ou você é legal com todo mundo, é porque você tem talento. Então, é isso que eu tento passar para elas. Então, é isso, tem que passar essa liberdade para elas, tem que deixar elas bem à vontade.

A mulher pode ser o que ela desejar

- Porque hoje em dia você não precisa mostrar que você é capaz. Não na seleção, mas digo você não tem que mostrar para o menino da rua que você é capaz, você não tem que mostrar para o senhorzinho que fala mal de você que você está jogando com o menino na rua que você é capaz. De um modo geral, você não tem mais que mostrar para a sociedade que a mulher é capaz de jogar futebol. Entendeu? Que a mulher, em todos os sentidos, não só no futebol, mas em qualquer outra atividade, é o ser humano. E é capaz de desempenhar, desenvolver qualquer tipo de atividade.

É só questão de querer, se dedicar, perseverar. Então, o sexo hoje, ser homem ou mulher, isso e aquilo, ele não tem que decidir o que tem que ser feito ou o que não tem. Mas, de uma certa forma, na época que a gente começou, era muita coisa, era uma sociedade que não enxergava o futebol feminino, o futebol na verdade, como um esporte feminino. E aí entra a situação da gente ter que ser forte para encarar isso, ser forte para escutar as piadinhas, ser forte para mostrar que a gente sim tem capacidade física, mental e habilidade. Então era um pacote que, de uma certa forma, mudou todas essas meninas Principalmente a geração antes dessa, né? Que eu faço parte. Que a gente encara e pronto, acabou Quer falar de mim? Fala mal de mim, mas fala.

Pensa em ser treinadora no futuro?

- Como treinadora, porque como treinadora eu ia, meu Deus do céu, não dá. Acho que como treinadora não dá. Uma auxiliar que fica mais ou menos só dando um toquezinho, uma conselheira, alguém que tem a lição pra conversar e tal, não sei o que. Algo nesse sentido, até vai. Agora como treinadora eu acho que eu sei, não tenho muita paciência. Sabe, é que com o passar do tempo eu até fiquei mais calma, mas eu era muito mais explosiva dentro de campo, de expressão e de falar também. Mas como treinadora eu acho que isso vai ativar novamente. Você tá ali na beira do campo, aí é um passe de três metros, Aí vou querer me colocar no lugar da atleta e falo, eu acho que eu não errava um passe de três metros, minha filha. Entendeu? Sou meio assim, então. Eu não sei, eu acho que não dá. Como treinadora eu sou meio estressadinha.

O que faz fora do papel de jogadora

- Eu sou assim também (em casa), eu fico procurando alguma coisa pra fazer. Ultimamente, nos meus dias de folga, eu tô me arriscando a jogar golfe. E era um esporte que eu falava, lógico que não vou jogar golfe. Vocês só viam os aposentados e tal, né? Falei, calma que eu não tô chegando a isso jamais. Depois eu fui pegando o gosto. Acho massa hoje em dia. Tenho um dia de folga vou lá jogar golfe. Adoro música, tenho vários instrumentos em casa. Aí eu faço uma notinha com uma mão só, porque eu não sei tocar teclado, não sei tocar piano, não sei nada.

Aí o povo que não entende 100% de música fica falando que eu toco isso, toco aquilo. Eu toco, gente. Eu toco três notas em cada coisa (risos). Eu toco cavaquinho, toco violão, toco o piano lá, sei lá o que mais, toco banjo. Mas é só três notinhas, entendeu? Mas assim, você posta, mas ali eu botei a notinha aqui, está com a cifra, vocês não estão nem vendo aqui, eu tô ali. Aí coloca um óculos escuro, não sabe nem se eu tô olhando pra cifra, não.