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Uso de IA pode gerar preguiça cognitiva, apontam especialistas
Educadora adverte para a necessidade de mediação crítica e uso consciente da tecnologia
BATANEWS/REDAçãO
O uso excessivo da Inteligência Artificial (IA) por estudantes tem gerado preocupação entre especialistas devido aos possíveis impactos negativos no desenvolvimento cognitivo. Embora a tecnologia seja útil para resumos e pesquisas, seu uso indiscriminado pode resultar em preguiça cognitiva, falta de criatividade e superficialidade na aprendizagem.
Psicólogos e educadores alertam que a dependência da IA pode comprometer a capacidade de formular ideias originais e desenvolver argumentação consistente. No entanto, quando utilizada de forma consciente e mediada por princípios éticos e pedagógicos, a tecnologia pode contribuir positivamente para o processo educacional, oferecendo personalização de conteúdo e suporte ao ensino.
Eduardo Pereira Klaus, de 22 anos, é um exemplo de usuário assíduo do ChatGPT. Estudante de Agronomia, há um ano e meio ele usa a ferramenta, principalmente, para poupar tempo de leitura. Ao invés de ler na íntegra os artigos indicados pelos professores, ele utiliza o recurso para resumir arquivos e ler as informações principais. Quando precisa pesquisar conteúdo para um trabalho específico, o universitário diz que pesquisa na IA e depois faz a comparação dos resultados com o google a fim de confirmar os dados. Ao ser questionado se a IA tem afetado a qualidade de sua escrita ou aprendizado, o estudante disse que não.
A mesma opinião tem Gabriela Beatriz dos Santos, de 20 anos, estudante de Matemática. “Eu utilizo de forma criteriosa, apenas para resumos de textos acadêmicos e correções de textos. Não utilizo para produção de ideias', afirma a universitária. Um exemplo de uso, conforme Gabriela, é na correção de textos. Como está estudando para concursos, ela passa para a ferramenta quais os critérios da banca para a correção de redação. Em seguida, submete seu texto para que a ferramenta avalie e faça a atribuição de nota.
Entre prós e contra o uso indiscriminado da Inteligência Artificial (IA) no ambiente educacional tornou-se uma preocupação de especialistas. A professora de Língua Portuguesa Rosana Coelho disse que tem notado que os estudantes estão cada vez com menos qualidade na produção de texto e na interpretação de texto, por isso, foca em exercícios práticos em sala de aula.
Senso crítico afetado
A psicóloga Fabiana Silvestre e a educadora Rosimeire Martins Régis dos Santos apontam que entre as principais consequências no uso de IA estão a preguiça cognitiva, a falta de criatividade e a resolução de problemas sem compreensão profunda. Para as especialistas, a mediação crítica e a orientação pedagógica são essenciais para garantir que a IA seja uma ferramenta de apoio e não um substituto para o desenvolvimento intelectual autêntico.
Embora entusiasta e usuária regular de ferramentas de inteligência artificial em seu trabalho, Fabiana Silvestre explica que esses hábitos, quando feitos sem critérios bem definidos, transformam a aprendizagem em um processo mecânico e superficial. Para Silvestre, uma das principais consequências é a dependência cognitiva, pois ao reduzir o esforço mental para sintetizar informações e organizar pensamentos, ocorre a atrofia na capacidade de formular ideias originais. Para a especialista, a delegação da construção de textos à inteligência artificial também traz prejuízos, enfraquecendo as habilidades de contra-argumentação. O resultado, segundo ela, é uma fragilidade argumentativa e uma superficialidade reflexiva.
A psicóloga conclui que a superexposição a estímulos digitais fragmenta a percepção holística do contexto, dificultando a integração entre a experiência subjetiva e a realidade. Essa fragmentação, por sua vez, fragiliza a capacidade de discernimento crítico. O alerta de Fabiana Silvestre ressalta a urgência de uma abordagem mais consciente e equilibrada no uso das tecnologias digitais para preservar as habilidades cognitivas e o pensamento crítico na era da informação.
Rosimeire Martins Régis dos Santos, pesquisadora em tecnologias da informação, corrobora os riscos da utilização excessiva da IA, que pode levar à dependência tecnológica, superficialidade e, em casos mais graves, à falta de criatividade e visão aprofundada dos problemas. Para ela, o educador desempenha um papel crucial ao guiar o uso crítico e ético da IA, assegurando que a tecnologia promova a autonomia intelectual e o desenvolvimento humano do aluno.
Apesar dos desafios, Rosimeire Régis também enxerga a IA como uma ferramenta com grande potencial de aprendizado, desde que utilizada de forma consciente e mediada por princípios éticos e pedagógicos. A professora destaca que a IA pode personalizar conteúdos, oferecer suporte aos professores e estimular a aprendizagem ativa e investigativa, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade e da capacidade de resolução de problemas por meio de simulações.