'Quase entidade', uma das maiores águias do mundo reaparece no Pantanal de MS

Expedição tenta localizar ninho e entender comportamento de casal de harpias no bioma

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Harpia (Harpia harpyja) empoleirada entre galhos de árvore, onde ficou por mais de 1 hora (Foto: Gabriel Oliveira)

Uma das maiores águias do mundo, a harpia, reapareceu no Pantanal de Mato Grosso do Sul, despertando a atenção de biólogos e observadores de aves. Com expedições lideradas pelo biólogo Gabriel de Oliveira, o objetivo é encontrar o ninho do casal de harpias, espécie classificada como 'quase ameaçada' de extinção. O primeiro avistamento ocorreu em abril de 2024, e desde então, as buscas têm revelado detalhes sobre o comportamento dessas aves, que podem medir até 2,20 metros de envergadura.

A presença da harpia no Pantanal, região também impactada pela mineração, reforça a importância de medidas de proteção ao seu habitat. Além das harpias, expedições recentes registraram o encontro com a águia de penacho, outra ave de rapina impressionante. As descobertas têm mobilizado especialistas e turistas, destacando a relevância da conservação da biodiversidade local.

'É quase uma entidade que se materializa e desmaterializa de forma imprevisível', diz o observador de aves.

O primeiro avistamento foi feito pela bióloga Yasmin Pereira e ocorreu em abril de 2024, no Maciço do Urucum, em Corumbá. Depois, o mais marcante foi feito por Gabriel em outubro do mesmo ano, quando a ave atravessou o céu carregando restos mortais de um macaco-bugio. 'É como ganhar na Mega-Sena', comemorou na época.

'Naquele dia, suspeitei que houvesse um ninho e que ele poderia estar próximo. Era um macho levando alimento até lá, onde provavelmente também estaria a fêmea', lembra o biólogo.

Achar o ninho e desvendar o que ainda não se sabe sobre o comportamento dessas águias no Pantanal segue como o maior objetivo das expedições. Gabriel e os outros membros da empreitada ainda não conseguiram, mas acreditam que estão quase lá.

O fato de o Maciço do Urucum ser explorado pela mineração reforça a importância da busca, pois ela pode implicar em medidas de proteção ao território onde a ave vive. A harpia é classificada como 'quase ameaçada' de extinção na lista nacional do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Descobertas até agora - É mais comum a águia ser encontrada em áreas da Mata Atlântica e da Amazônia. No Pantanal, o primeiro avistamento foi registrado em 2013, segundo os estudos do biólogo. Na época, era um animal jovem.

Já foram feitas mais de 10 expedições e o casal de harpias se exibiu em várias delas. A busca continua com o apoio do Projeto Harpia Brasil e da Saua Consultoria. O biólogo tem a própria empresa de ecoturismo, por isso, inclui turistas nas buscas.

A conclusão até agora é que somente duas aves foram avistadas todas as vezes. Os especialistas sabem identificá-las por detalhes únicos como plumagem e falhas nas penas, por exemplo.

Ela é uma espécie poderosa, do topo da cadeia alimentar. Sua presença é alertada pelo canto das gralhas, no Pantanal.  Têm uma dieta variada, composta por mamíferos como macacos, preguiças e quatis, além de aves e outros vertebrados.

Bônus: águia de penacho - A última expedição de junho deste ano rendeu um encontro inesperado com o ninho de outra ave de rapina, a águia de penacho (Spizaetus ornatus).

Bonita e posturada, ela se impôs aos observadores com penas na cabeça que parecem a de um cacique, peitoral e cauda longa que poderiam ser pinturas.

'Tivemos esse feliz encontro por estarmos monitorando a presença desses rapinantes desde o ano passado, gerando o despertar daquela área', diz Gabriel.

O biólogo conta ainda que fotos de casal de águia de penacho no ninho e o avistamento de harpia viraram presentes de aniversário para uma turista de 15 anos que mora em São Paulo (SP) e veio ao Pantanal de Mato Grosso do Sul com a mãe.

'As águias fazem parte do imaginário e dos sonhos de todos os observadores de aves. Essa turista pediu para observar aves no Pantanal por três dias. Para ela e para nós, foi extremamente emocionante', finaliza.