Saúde
Impacto da cirurgia de retirada de útero na sexualidade da mulher é mais psicológico do que físico
Cada caso é preciso ser avaliado individualmente, tanto para a indicação da cirurgia quanto para seus efeitos no prazer sexual
BATANEWS-FOLHA
A cirurgia de histerectomia, que é a retirada do útero, pode causar dúvidas e incertezas quanto aos impactos na vida sexual pós-operatório. Isso acontece principalmente pela confusão entre este procedimento e ooforectomia, que é a retirada dos ovários.
Existem diferentes tipos de cirurgia para a retirada do útero. A chamada total é quando são retirados o útero, o colo do útero e as trompas de falópio. Já a subtotal é quando há a retirada do corpo do útero, deixando o colo.
'A subtotal pode ser indicada em casos como nos que há muita aderência na pelve', diz a ginecologista e sexóloga Juliana Aquino, que é preceptora do ambulatório do climatério e ginecologia endócrina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Geralmente, em ambos os casos, os ovários são deixados intactos no corpo da mulher, e eles que são os responsáveis pelas alterações hormonais e, consequentemente, sexuais. A retirada apenas do útero não implica em alterações hormonais e não impacta a libido.
A médica aponta que casos de tumor nos ovários ou outras doenças malignas podem fazer com que a indicação seja retirá-los. 'Antigamente, quando a mulher ia ser submetida a uma histerectomia e já estava muito próxima da idade da menopausa, tinha-se a ideia de ter que tirar os ovários também. Mas foi visto que não tinha benefício', diz.
Nos casos em que a retirada é recomendada, a paciente entra no que os especialistas chamam de menopausa induzida, passando a ter os sintomas que normalmente as mulheres no climatério experimentam.
Fabiene Bernardes, presidente da comissão nacional especializada em sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), destaca a importância da reposição hormonal, principalmente de estrogênio e androgênios. Mas alerta que cada caso deve ser avaliado por um médico individualmente, a depender da razão que levou à necessidade da cirurgia.
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Mesmo a cirurgia de retirada do útero, mantendo os ovários, só é feita com indicação médica. Seja por algum mioma, tumor benigno, sangramento excessivo ou endometriose, por exemplo. Ou seja, não basta querer retirá-lo, e o motivo são os riscos trazidos por qualquer cirurgia.
Bernardes alerta também para o risco de lesão do nervo pélvico, que pode acontecer na histerectomia total. 'A lesão ocasiona alteração da sensibilidade do estímulo da vasodilatação, o que leva à lubrificação, além de gerar uma falha no impulso cerebral do clitóris e pode gerar uma dificuldade de atingir o orgasmo', explica.
Além dos riscos durante a cirurgia, um procedimento requer cuidado e atenção após a sua realização, o que pode impactar momentaneamente na saúde física e sexual da paciente.
Michelle Penna, ginecologista mestre em ginecologia pela Unifesp, explica os cuidados necessários no pós-operatório. Quando a cirurgia é feita por videolaparoscopia e por robótica, em 15 dias a mulher já pode voltar a suas atividades. Já na cirurgia aberta, que funciona como uma cesariana, principalmente se for total, a mulher deve esperar de 30 a 45 dias para voltar às atividades, principalmente a sexual.
Já que a retirada do útero não traz nenhum impacto hormonal que explique alterações na vida sexual das mulheres, as explicações para possíveis mudanças são psicológicas, tanto as positivas quanto as negativas.
'Pode gerar uma ansiedade sobre a feminilidade', diz Bernardes. A médica explica que para algumas pessoas o útero representa a fertilidade e pode causar alterações na imagem corporal, o que pode interferir negativamente no desejo e na resposta sexual.
Ela aconselha que tudo seja conversado previamente nas consultas pré-operatórias, para que todas as dúvidas sejam esclarecidas quanto a medos e anseios. Há também, por outro lado, impactos positivos na saúde sexual de quem passa pela histerectomia.
'Muitas vezes a mulher se sente mais livre da menstruação e de um risco de gravidez indesejada. Ela acaba se sentindo melhor com o próprio corpo e mais livre para poder exercer a sua sexualidade', fala Penna.
O alívio e bem-estar após a cirurgia também está relacionado aos casos das mulheres que sentiam dor antes da cirurgia, por endometriose ou algum outro motivo; e também para as com um fluxo menstrual grande.
Bernardes afirma que 'toda função sexual é biopsicossocial'. Segundo as médicas, a cirurgia pode ser libertadora ao livrar as mulheres de sofrimentos causados por doenças ou alterações no útero, valendo o risco-benefício.