Privatização da inspeção agropecuária trará riscos à saúde pública, dizem auditores

Levantamento aponta que 91% dos profissionais veem possibilidade de conflito de interesse no projeto. Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)

BATANEWS/REDAçãO


Fotos: Divulgação/Anffa Sindical

A grande maioria dos auditores fiscais federais agropecuários vê com preocupação e aponta riscos à saúde pública caso o plano de privatização da inspeção ante mortem e post mortem de animais destinados ao abate seja implantado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O levantamento, realizado antes da divulgação da minuta oficial da regulamentação da Lei do Autocontrole (14.515/2022), indicou que 91% dos profissionais que atuam em inspeção permanente acreditam que haverá conflito de interesse, caso a atividade seja delegada a médicos veterinários contratados por empresas privadas.

Foto: Giuliana de Abreu

Hoje, os auditores fiscais federais agropecuários, que são médicos veterinários concursados e que atuam a serviço da população, garantem a segurança da carne desde o pré-abate, inspecionando as condições de saúde dos animais e impedindo que produtos inadequados cheguem ao mercado. A nova proposta do governo permite que as próprias empresas contratem quem irá fiscalizá-las, o que configura um claro conflito de interesses e fragiliza o controle sanitário.

O questionário foi feito pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) e contou com a participação de 400 profissionais. O levantamento mostrou que 74% dos auditores da inspeção permanente acreditam que haverá riscos para a saúde pública, principalmente devido à pressão e à interferência das empresas fiscalizadas sobre os inspetores contratados.

Ainda em relação aos auditores agropecuários que atuam na inspeção permanente, 74% não acreditam que a inspeção ante e post mortem realizadas por médicos veterinários privados será íntegra. “Não duvidamos da integridade dos médicos veterinários por si só, acreditamos no conselho de ética, mas a situação de conflito de interesses, onde este profissional estará sob pressão, sim, afetará sua integridade', afirma o titular do Grupo Técnico de Trabalho (GTT) do Anffa Sindical, Henrique Pedro Dias.

O questionário também traz interrogações a respeito do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa). Metade dos profissionais da área afirma que não há treinamento para a capacitação dos médicos veterinários oficiais contratados, hoje, por Acordo de Cooperação Técnica (ACT). Outros 36% reconhecem o treinamento e 14% não sabem opinar.

A maioria dos participantes (59%) entende que os médicos veterinários cedidos por pessoa jurídica privada não serão devidamente responsabilizados em caso de irregularidades. Alerta-se que 69% acreditam que a longo prazo a regulamentação trará prejuízos para a carreira.

Por fim, 48% dos profissionais são a favor de uma regulamentação do Art. 5 da Lei 14.515, enquanto 45% são contra, 9% não sabem opinar. O fato de a maioria ser favorável à regulamentação não significa que apoia a privatização. Os resultados dos questionários deixam isso bem claro: 91% veem a privatização de forma negativa, pois acreditam que pode haver irregularidades.

“O que se deseja é a regulamentação, ou seja, a mudança na forma como o trabalho é realizado atualmente', explica Henrique Pedro Dias. “Isso é algo que o Anffa Sindical também defende, mas acredita que deve haver uma ampla discussão sobre o tema', finaliza.

Diante desse cenário, o diretor do Anffa Sindical questionou por que a minuta não considerou alternativas como o aproveitamento do Fundo Federal de Defesa Agropecuária, previsto no Projeto de Lei 3179/2024, que poderia garantir o financiamento público das atividades de inspeção. Os profissionais da carreira reforçam que a transparência e a manutenção da atribuição pública da inspeção são fundamentais para garantir a segurança do alimento da população e a qualidade dos serviços prestados.