O mercado de trabalho na cadeia produtiva da soja e do biodiesel no Brasil

O crescimento do emprego no setor reflete a dinâmica de produção e a adoção de tecnologia, que geram maior demanda por mão de obra qualificada e promovem melhores condições salariais. O desafio será equilibrar modernização e inclusão social, garantindo oportunidades para um número crescente de trabalhadores. Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)

BATANEWS/O PRESENTE RURAL


Foto: Divulgação/AEN

A cadeia produtiva da soja e do biodiesel no Brasil está conectada ao contexto geopolítico global, influenciando e sendo influenciada por disputas comerciais, acordos ambientais internacionais e políticas energéticas. Como maior produtor e exportador mundial de soja in natura e com participação expressiva na oferta global de derivados, o Brasil desempenha um papel estratégico no abastecimento dessas commodities, especialmente para grandes economias como China, União Europeia e Estados Unidos. Ao determinar a demanda por soja e derivados do Brasil, a dinâmica geopolítica impacta o mercado de trabalho do setor, refletindo-se nos investimentos, na demanda por mão de obra e no desenvolvimento regional.

A soja brasileira é um ativo estratégico para a segurança alimentar global, sendo essencial para a alimentação animal e humana. Nos últimos anos, tensões comerciais entre China e Estados Unidos fortaleceram a posição do Brasil como fornecedor de soja para o mercado chinês, impulsionando o emprego em toda a cadeia produtiva, principalmente no segmento primário.

Por outro lado, a crescente dependência do mercado chinês aumenta a vulnerabilidade do Brasil a mudanças em tarifas comerciais ou sanções, impactando empregos e rendimentos na cadeia produtiva. Além disso, políticas ambientais da União Europeia impõem restrições a produtos ligados ao desmatamento, exigindo ajustes nas práticas agrícolas para garantir a competitividade no mercado global.

A produção de biodiesel também está inserida nesse contexto geopolítico, no que se relaciona à transição energética global. Muitos países buscam reduzir a dependência de combustíveis fósseis, criando oportunidades para o Brasil expandir sua produção de biocombustíveis. Políticas como a obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel e incentivos para a transição energética têm fortalecido empregos diretos e indiretos no setor.

Evolução do emprego na cadeia produtiva da soja e do biodiesel

Segundo dados dos Cepea, o número de pessoas ocupadas na cadeia produtiva cresceu de 1,14 milhão em 2012 para 2,32 milhões em 2023, refletindo a expansão da produção e a crescente demanda global por soja e derivados. O segmento de agrosserviços foi o que mais avançou em termos absolutos, passando de 793 mil para mais de 1,6 milhão de pessoas ocupadas no período. O segmento primário (cultivo de soja) também apresentou crescimento expressivo, indo de 214 mil para 479 mil empregos, impulsionado pela expansão da área plantada e contrabalanceado pela adoção de tecnologias que aumentam a produtividade e reduzem a demanda por mão de obra pouco qualificada.

A formalização do emprego e o aumento da escolaridade também foram notáveis. Informações do Cepea indicam que a proporção de trabalhadores com ensino médio completo aumentou de 39,72% em 2012 para 46,58% em 2023, enquanto aqueles com ensino superior passaram de 17,37% para 26,26% no mesmo período. A crescente mecanização e automação da cadeia produtiva tendem a reduzir a demanda por empregos menos qualificados, aumentando a necessidade de profissionais especializados e reforçando a importância de investimentos em educação e capacitação.

A distribuição por gênero se manteve relativamente estável entre 2012 e 2023, com 65% da força de trabalho

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

composta por homens e 35% por mulheres. Ainda que a participação feminina tenha se mantido estável, o crescimento do número de mulheres ocupadas nessa cadeia produtiva reflete iniciativas de inclusão no agronegócio e a mecanização, que reduz a necessidade de trabalho braçal pesado, tradicionalmente executado por homens.

As políticas econômicas têm sido fundamentais para a sustentação do emprego no setor. A obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel impulsionou a produção e gerou empregos diretos e indiretos. Além disso, incentivos para biocombustíveis promovem o desenvolvimento sustentável e a expansão do setor. Outras iniciativas incluem o fortalecimento da infraestrutura logística e o acesso facilitado ao crédito rural, permitindo mais investimentos em tecnologia e ampliação da produção.

Tendências e desafios

O setor continuará evoluindo com maior automação e digitalização, reduzindo a necessidade de mão de obra pouco qualificada e aumentando a demanda por trabalhadores especializados. A inclusão de mulheres e jovens no mercado de trabalho também deve ser incentivada, por meio de capacitação e programas de incentivo. No que diz respeito à produção, os desafios incluem a adaptação às mudanças climáticas e a necessidade de garantir sustentabilidade na expansão agrícola para atender às exigências dos parceiros comerciais.

O Brasil encontra-se em uma posição estratégica, mas vulnerável, dentro da geopolítica global da produção de soja e biodiesel. O sucesso do setor dependerá da capacidade do País de diversificar mercados, adaptar-se a padrões de sustentabilidade e fortalecer políticas de incentivo ao emprego qualificado.

O crescimento do emprego no setor reflete a dinâmica de produção e a adoção de tecnologia, que geram maior demanda por mão de obra qualificada e promovem melhores condições salariais. O desafio será equilibrar modernização e inclusão social, garantindo oportunidades para um número crescente de trabalhadores e promovendo um agronegócio sustentável e competitivo no cenário global.