Estudo revela mudança genética em filhotes de araras, impacto da urbanização

Pesquisa científica comprovou anomalias celulares em aves que nasceram na Capital, por conta dos poluentes

BATANEWS/CGNEWS


Filhotinhos de arara-canindé passando por exames de monitoramento e colocação de identificação (Foto: Arquivo/Paulo Francis)

Um estudo inédito revelou os impactos da urbanização na saúde genética de filhotes de arara-canindé em Campo Grande. Analisando 48 filhotes, a pesquisa constatou alta frequência de anormalidades nucleares em eritrócitos, principalmente em aves de ninhos próximos a áreas com intenso tráfego e pouca vegetação. 100% dos filhotes apresentaram anormalidades, com micronúcleos em 47,9% das amostras, indicando danos cromossômicos. O estudo destaca a arara-canindé como bioindicador da qualidade ambiental urbana, alertando para a necessidade de conservação de áreas verdes e redução da poluição para preservar a saúde genética dessas aves.

A pesquisa, liderada pela médica veterinária, Maria Eduarda Monteiro Nascimento e coautoria de especialistas como Larissa Tinoco, Neiva Guedes, Alda Souza, LuizHepp e Larissa Grunitzky, analisou a presença de anormalidades nucleares nos eritrócitos de 48 filhotes monitorados pelo Instituto Arara Azul, durante a estação reprodutiva de 2022 (outubro de 2022 a fevereiro de 2023).

O estudo, que utilizou o teste de micronúcleos e outras anormalidades nucleares para avaliar danos no DNA dos filhotes, revela que a urbanização tem um efeito direto sobre a frequência de mutações celulares nos animais.

A pesquisa constatou que os filhotes de araras que nasceram em ninhos situados próximos a áreas com intenso tráfego de veículos e escassez de vegetação apresentaram maiores índices de anormalidades, como núcleos entalhados e células anucleadas.

A escolha das araras-canindé como objeto de estudo não é casual. A espécie é considerada um excelente biomonitor ambiental, pois, devido à sua ampla distribuição e sensibilidade a mudanças no ambiente, pode refletir os impactos de poluentes e outras condições adversas.

Além disso, as aves têm uma alta taxa metabólica e um sistema respiratório eficiente, o que as torna particularmente vulneráveis à absorção de contaminantes presentes no ar, como metais pesados e compostos orgânicos persistentes.

De acordo com os resultados, das 45 amostras analisadas, 100% dos filhotes apresentaram anormalidades nucleares, com 47,9% apresentando micronúcleos, um tipo de alteração genética que indica danos cromossômicos.

As células com núcleos entalhados foram as mais comuns (44,6%), enquanto as células anucleadas, que indicam danos mais graves, foram as menos frequentes (2,8%). A frequência média de micronúcleos foi de 0,7 por cada 5.000 células analisadas, enquanto as outras anormalidades nucleares ocorreram em uma média de 22,5 por cada 5.000 células.

O estudo mostrou que fatores ambientais, como a presença de áreas verdes e a intensidade do tráfego de veículos, foram determinantes na ocorrência de anormalidades nucleares.

'As áreas urbanas, com seu alto nível de poluição e urbanização, representam uma pressão significativa para a fauna local. A pesquisa nos permite afirmar que os filhotes de arara-canindé expostos a essas condições apresentam uma maior frequência de mutações genéticas', explicou Maria Eduarda Monteiro Nascimento, autora do estudo.

Além de alertar sobre os danos genotóxicos causados pela urbanização, o estudo sublinha a importância das áreas verdes como um recurso vital para a preservação da saúde genética das aves em ambientes urbanos. A pesquisa também sugere a necessidade de monitoramento contínuo dessas populações para entender melhor os impactos a longo prazo da poluição e da perda de habitat.

Este é o primeiro estudo a documentar a presença de anormalidades nucleares em filhotes de araras-canindé nascidos em ambientes urbanos. O estudo faz um alerta para a importância da conservação das áreas verdes e da redução da poluição nas cidades, sugerindo que a arara-canindé pode servir como um biomonitor para a qualidade ambiental em áreas urbanas.