Agronegócios
Agro do País “anda sozinho, mas há entraves ao investimento estrangeiro
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Amy Chan Foto Miguel Oliveira Estadão Blue Studio
Independentemente de quem estiver à frente do governo do Brasil, oagronegócioe a economia continuarão “andando”, avaliou a diretora de Investimentos da empresa chinesa Dakang Brasil, Amy Chan, que foi a principal palestrante doSummit Agronegócio Brasil 2022, promovido peloEstadãoentre os dias 7 e 9 de novembro, em formato online e presencial, em São Paulo. “Percebemos que o agro brasileiro não para. Economia e agro seguem caminhando”, reforçou.
No Brasil, a companhia controla as empresas Fiagril, Belagrícola e Fex Agro, do setor de insumos agropecuários.
A executiva acrescentou que a necessidade de segurança alimentar daChinafoi o principal motivo que levou a Dakang a investir aqui. “A segurança alimentar é a maior estratégia para entrar no Brasil. A China não tem recursos naturais para garantir sua autossuficiência alimentar”, justificou. Ela advertiu, porém, que as mudanças regulatórias frequentes, o regime tributário complexo e as ações judiciais longas desafiam oinvestidor estrangeirointeressado no País. “O volume de mudanças regulatórias a cada ano é expressivo. Os processos de cartórios e longas ações judiciais também dificultam”, acrescentou.
Segundo Chan, há, além disso, complexidade para o investidor estrangeiro confirmar informações contábeis e burocráticas. “Às vezes não há sistema para controlar faturamento e não há auditoria externa”, criticou.
A volatilidade cambial significativa do País é outro fator de complexidade para o investidor estrangeiro. “A oscilação dodólarafeta muito o valor de investimento. Não é fácil procurar soluções para hedge (proteção do investimento) com oscilação cambial expressiva”, apontou Chan, mencionando, além disso, variações expressivas na taxa básica de juros do País, aSelic.
Amy Chan contou que, nos 16 anos em que atua no Brasil, já passou por quatro presidentes da República e volatilidade cambial expressiva, pois, quando chegou por aqui, o dólar variava na casa dos R$ 2,07.
Sobre a relação comercial entre Brasil e China, ela pontuou que hoje o Brasil é o principal fornecedor dealimentospara lá, sendo responsável por 91% das importações do gigante asiático em dez produtosagropecuários. Atualmente, os chineses adquirem do Brasil principalmente soja e carnes – bovina, suína e de frango. Além disso, o crescimento exponencial da classe média no país pode servir de oportunidade para o agronegócio brasileiro “diversificar a pauta deexportaçãocom produtos de maior valor agregado”.
Mesmo assim, ela avaliou que seu país não será “autossuficiente em soja”, e que continuará demandando a oleaginosa do Brasil. “A necessidade de importação continua, mesmo com o crescente investimento chinês em esmagamento. Mas a China tem muitas limitações em relação a clima e a recursos naturais. Não acho, por isso, que chegará ao ponto de parar ou diminuir as importações do grão brasileiro”, avaliou.
Chan destacou que considera também a possibilidade de o Brasil exportar milho para lá. “Podemos ver interessante evolução nos próximos anos nessa exportação, além, como já disse, dos produtos de maior valor agregado.”
A executiva considerou também que, além da China, vê oportunidades para o Brasil exportar para países comoIndonésia. “Vejo demanda especialmente do Meio-Oeste e Sudeste daÁsia.” Amy Chan destacou, porém, ter percebido, nos últimos anos, uma “retórica contra a China” por aqui. “O Brasil recusou alguns convites da China nos últimos anos. Não sei se o novo governo vai mudar isso”, afirmou, ao ser questionada sobre as eventuais mudanças na relação entre os dois países a partir do governo do presidente recém-eleitoLuiz Inácio Lula da Silva(PT).
O Brasil deve deixar claro que está aberto a receber investimentos chineses, disse a sócia-diretora da Vallya Agro, Larissa Wachholz, no Summit Agro. Ela ressaltou, porém, que a China prefere negociações de alto nível, governo a governo. “É uma particularidade deles, que buscam maior segurança.”
Diante disso, Wachholz defendeu que o Brasil proponha uma agenda de visitas presenciais, assim que a China reabrir suas fronteiras, sanada a crise decovid-19, “o que deve acontecer nos próximos meses”.
Ela citou como exemplo dessa necessidade as rodadas das reuniões da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação. “Os projetos acontecem entre empresas privadas, mas é preciso garantir que o governo vê com bons olhos essas parcerias” (O Estado de S.Paulo, 20/11/22)