Cotidiano
E se o medo estiver te afastando do que mais importa?
Viver com ousadia não significa viver sem medo, mas não deixar que ele seja o piloto da sua vida
BATANEWS/VEJA
Faz 4 meses que essa coluna se tornou nosso espaço semanal para falar sobre evitação psicológica e como transformar sua ansiedade na sua maior força. Já te contei que sou professora da Harvard Medical School há mais de 20 anos. Psicóloga, mineira de Governador Valadares e autora do livro “Viver com Ousadia”.
Mas hoje, não quero escrever como professora de Harvard. Quero escrever como uma brasileira que, por um tempo, esteve paralisada pelo medo.
E te perguntar: você já se sentiu assim?
Quando o medo grita: “você não é suficiente”
Desde o fim de 2023, quando meu livro foi lançado no Brasil, recebo mensagens generosas de muitos psicólogos com um convite: “Volta para o Brasil, Luana. Traz esse conhecimento para cá e ensina a gente!”.
Mesmo com vontade, eu resisti. O medo bateu. E a ansiedade também.
Ensinar em Harvard? Isso eu aprendi e já sei como fazer. Publicar ciência? Também.
Mas voltar para o meu país, depois de 30 anos fora, e ensinar os psicólogos brasileiros me pareceu assustador.
Mesmo com mais de 20 mil horas de clínica, meu cérebro começou com todas desculpas possíveis para evitar:
Por trás de cada uma dessas frases, havia uma voz mais antiga: a crença de que eu não era suficiente.
Mesmo depois de 20 anos ensinando, pesquisando e publicando ciência nos Estados Unidos, essa parte de mim ainda está viva. E o cérebro, como um bom funcionário, confirma nossas crenças.
Se você acredita que não é suficiente, ele vai te mostrar todas as razões para fugir, adiar ou se esconder.
Entender seus valores não basta
Nas últimas semanas, falamos sobre como viver guiado pelos seus valores não é fácil . Também conversamos sobre como identificar o que realmente importa – não aquilo que a sociedade espera, mas aquilo que pulsa dentro de você.
E agora, eu te digo: entender os seus valores não é suficiente. Você precisa agir com base neles.
Quando me perguntei o que eu queria para essa nova fase da minha carreira, a resposta veio clara: impacto.
Impacto para mim é isso: é escrever essa coluna e receber mensagens de pessoas no meu Instagram dizendo “isso mudou meu dia”.
É ver a psicologia acessível, viva, prática e útil. É levar conhecimento científico de qualidade para mais pessoas e treinar quem pode ajudar mais gente. Então, precisei me lembrar do que ensino todos os dias: ansiedade não é inimiga. Ela é a febre. Enquanto a verdadeira infecção é a evitação psicológica. Em vez de evitar, eu decidi abordar.
O medo pode vir, mas não dirige
Hoje, posso te contar que o projeto para ajudar a treinar o mercado brasileiro está ganhando força: a primeira turma de mentoria já aconteceu e ainda tem muita coisa por vir para formar os melhores psicólogos do Brasil.
Se quiser ouvir mais sobre minha jornada e os próximos passos, com direito a sotaque, gravei um podcast com Eslen Delanogare e contei tudo por lá. É só clicar aqui para assistir ao episódio na íntegra .
A verdade é que o medo jamais desaparece, mesmo que você tenha clareza. Ele sempre se manifesta e, no meu caso, vem a partir da minha crença de não ser suficiente.
Mas viver com ousadia não é viver sem medo. É não deixar que o medo dirija a sua vida.
Ele pode até sentar no banco do passageiro. Pode resmungar, apontar todos os riscos e inventar mil motivos para voltar atrás. Mas quem segura o volante é você. Com o medo ao seu lado, mas nunca no comando.
Agora, eu te pergunto:
O que você tem evitado, mesmo sabendo que aquilo importa para você?
Qual passo você pode dar ainda essa semana? Não porque é fácil, mas porque é coerente?
Mesmo quando sabemos o que precisamos fazer, o medo ainda aparece.
Mas viver com ousadia é isso: agir apesar dele. É transformar o medo em movimento e o valor em direção.
Se esse texto te fez pensar em algo que você vem adiando, mesmo sabendo que aquilo importa, me escreve lá no Instagram ?
Adoro conversar com vocês por lá e cada uma das mensagens me lembra por que escolhi esse caminho. Pode ser só um desabafo, uma dúvida ou uma decisão importante que você tomou depois de ler a coluna.
Estou por lá, e vou adorar te ouvir.
Nos vemos na próxima semana.