Pecuária
Como escolher entre sêmen convencional, sexado e genômico na pecuária
Tecnologias de inseminação artificial oferecem ganhos reprodutivos e genéticos, mas exigem planejamento para serem aplicadas de forma eficaz
BATANEWS/PODER360
A inseminação artificial evoluiu e se consolidou como ferramenta essencial para o avanço da genética bovina na pecuária. Hoje, o pecuarista pode escolher entre diferentes tipos de sêmen, convencional, sexado ou genômico, para alcançar objetivos específicos no rebanho. Mas qual é a melhor opção para cada sistema produtivo? A resposta passa por planejamento, análise de dados e alinhamento com as metas da fazenda.
Mais do que entender o tipo de material genético, é preciso compreender o papel estratégico que cada tecnologia desempenha. De acordo com especialistas em entrevista ao Canal do Criador, a escolha correta pode acelerar o ganho genético, aumentar a eficiência reprodutiva e gerar impacto direto na rentabilidade da atividade.
Genômica encurta o caminho até o ganho genético
Segundo Raul Lara Resende, analista técnico da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), a genômica tornou possível prever o mérito genético de um touro ainda muito jovem, com base em informações de DNA e parentesco. Essa tecnologia antecipa decisões que, até pouco tempo atrás, só poderiam ser tomadas após anos de avaliação da progênie.
“Hoje já se identifica em um bezerro ou até em um embrião um potencial genético equivalente ao de um touro adulto de nove anos do passado. Isso propiciou velocidade, redução de custos, precisão e eficiência muito superiores aos programas tradicionais de melhoramento”, explica Resende.
Na prática, touros genômicos são indicados para acelerar ciclos de seleção, permitindo que os produtores utilizem reprodutores superiores antes mesmo que esses tenham filhos avaliados.
Acurácia e risco: o que considerar no uso de sêmen genômico
Apesar das vantagens, o uso de sêmen genômico exige atenção quanto à acurácia das informações. Segundo Resende, “a confiabilidade das provas genômicas depende da qualidade dos dados utilizados e da densidade dos testes. Raças como Nelore, Holandês e Angus já têm bancos robustos e validações consistentes”.
Outro ponto importante é o tamanho do rebanho. “Em rebanhos grandes, mesmo com variação nos resultados, a chance de nascerem indivíduos muito superiores compensa o uso mais intenso de sêmen genômico. Já em rebanhos pequenos, o ideal é usar essa ferramenta de forma mais criteriosa, equilibrando com touros provados”, recomenda o analista da Asbia.
A genômica também pode ser aplicada em fêmeas, permitindo que o produtor direcione acasalamentos com maior precisão, selecione matrizes com base no mérito genético e utilize o sêmen ideal para cada perfil de animal.
Convencional ou sexado: como cada um se encaixa no sistema produtivo
De acordo com Gustavo Sousa Gonçalves, gerente de Leite Europeu da Alta Brasil, o sêmen convencional continua sendo amplamente utilizado pela resistência e pelas melhores taxas de prenhez. “O convencional aguenta mais ‘desaforo’, ou seja, emprenha um bom percentual de animais mesmo diante de problemas no manejo e no ambiente”, afirma.
Já o sêmen sexado, que permite escolher o sexo da cria, é indicado principalmente para rebanhos leiteiros bem manejados, com foco em reposição de fêmeas de alto valor genético. “No gado de leite, a possibilidade de aumentar o número de nascimentos de fêmeas é extremamente vantajosa. Mas é preciso que o rebanho tenha índices reprodutivos consistentes para aproveitar bem essa tecnologia”, ressalta Gonçalves.
A pureza do sêmen sexado hoje gira em torno de 90%, mas ele exige cuidados rigorosos no descongelamento e na aplicação. Pequenas falhas no manejo podem comprometer os resultados.
Estratégia e planejamento são fundamentais para o sucesso
Combinar diferentes tipos de sêmen pode ser uma solução eficiente para a genética bovina quando há planejamento reprodutivo. “Por exemplo, podemos usar sêmen sexado nas novilhas por até três tentativas. Se não houver sucesso, passamos para o convencional. Isso reduz custo e mantém a eficiência do sistema”, orienta Gonçalves.
O especialista reforça ainda que o maior erro do produtor é tomar decisões sem base nos dados da própria fazenda. “A pecuária moderna não tolera mais decisões no escuro nem ações sem preparo. A tecnologia está aí, mas ela só funciona com gestão, capacitação da equipe e suporte técnico qualificado”, conclui.
A aplicação como grande diferencial
Sêmen convencional, sexado ou genômico: todos têm potencial de contribuir para o avanço genético do rebanho. A diferença está no modo como são aplicados. O convencional oferece robustez, o sexado direciona a reposição com mais precisão e o genômico acelera o progresso genético. A escolha ideal vai depender do sistema de produção, dos recursos disponíveis e, principalmente, do planejamento.
Antes de definir qual tipo usar na genética bovina, vale buscar suporte técnico e alinhar a decisão com os objetivos produtivos da propriedade. Quando bem orientado, o uso estratégico dessas tecnologias pode transformar os resultados da fazenda em poucas gerações.