A qualquer hora, com qualquer pessoa: mal súbito mata 300 mil por ano no Brasil

Entenda por que mal súbito atinge até mesmo pessoas que praticam exercícios físicos

BATANEWS/REDAçãO


Mal súbito está relacionado a doenças não diagnosticadas (Imagem: Giovana Gabrielle)

Quem nunca ouviu a expressão: “morreu de uma hora para outra'? Sem explicação científica ou detalhamento, essa frase descreve, de forma simples, as mortes causadas por mal súbito, ou seja, aquelas que ocorrem de maneira repentina. Esse tipo de evento é responsável por cerca de 300 mil mortes por ano no Brasil.

Essas ocorrências, que muitas vezes não apresentam sinais claros ou avisos, podem atingir até mesmo pessoas aparentemente saudáveis, inclusive durante a prática de atividades físicas.

Em junho, houve grande repercussão da morte de um homem de 47 anos após sofrer mal súbito enquanto usava a esteira em uma academia, em Belo Horizonte (MG). Quando a equipe do Corpo de Bombeiros chegou, ele já estava em parada cardiorrespiratória. Os bombeiros iniciaram manobras de ressuscitação e continuaram até a chegada do médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas o homem não resistiu.

Poucas semanas antes, no dia 25 de maio, uma jovem de 22 anos também faleceu após sofrer um mal súbito em uma academia localizada em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Na ocasião, um médico que também treinava tentou reanimá-la, mas o local não dispunha de um desfibrilador. A jovem não resistiu e morreu no local.

Esses casos recentes reacendem uma preocupação: os episódios de mal súbito durante a prática de exercícios físicos, atividades consideradas essenciais para a manutenção da saúde. Segundo o cardiologista Ciro Jones Cardoso, da Santa Casa de São José dos Campos (SP), essas fatalidades ocorrem, principalmente, quando as pessoas não realizam uma avaliação prévia do seu estado de saúde.

“Antes de iniciar qualquer atividade física, a pessoa deve passar por uma avaliação com um cardiologista, que inclui uma boa anamnese (histórico clínico), exame físico e exames laboratoriais. Por meio desse processo, conseguimos identificar muitos casos de condições congênitas ou adquiridas que aumentam o risco de complicações durante o esforço físico', explica o médico.

Diagnóstico precoce e exercícios podem prevenir o mal súbito

Conforme a Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas), o mal súbito vitima cerca de 300 mil pessoas anualmente no Brasil. O cardiologista destaca que as causas podem estar relacionadas a doenças não diagnosticadas precocemente, impedindo o tratamento e a prevenção adequados.

“O mal súbito oculta muitas situações e patologias que poderiam ser diagnosticadas antecipadamente e, assim, possivelmente evitadas', observa. Geralmente, a ocorrência está relacionada a problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio e arritmias cardíacas graves, além de embolia pulmonar, acidentes vasculares cerebrais, crises convulsivas, choque anafilático secundário e alergias graves.

Embora ocorram casos de mal súbito durante a prática de atividades físicas, os exercícios continuam sendo grandes aliados à saúde, desde que, conforme orientado pelo cardiologista, haja uma avaliação prévia e que sejam realizados com o acompanhamento de profissionais qualificados.

“A prática de atividade física torna as pessoas mais dispostas, mais saudáveis e, consequentemente, aumenta sua expectativa de vida. Os profissionais de saúde têm incentivado e encorajado a atividade física, pois ela melhora não só o perfil físico, mas também o biológico, ajudando a prevenir diversas doenças, como a hipertensão arterial, que, embora não possa ser evitada, pode ser postergada com a prática regular de exercícios', frisa.

Sobre a prática de exercícios físicos, o especialista orienta a redobrar os cuidados durante dias frios. “Para a prática de atividade física no frio, além de uma boa avaliação cardiológica, é recomendado para quem pratica ao ar livre, mais expostos ao frio, que se agasalhem adequadamente, e para todos que se hidratem antes e depois do exercício, o que pode evitar uma situação de hipercoagulabilidade provocada por frio, desidratação e vasoconstrição', aconselha.

Alimentação também requer atenção

Outra questão preocupante é o crescente consumo de alimentos ultraprocessados, o sedentarismo, estresse e o uso de anabolizantes. Hábitos que aumentam a pressão arterial, elevam o colesterol ruim e reduzem o colesterol bom potencializam os riscos de mal súbito.

Estudos indicam que essas condições favorecem a formação de placas de gordura nas artérias coronárias. Além de aumentar as chances de mal súbito, aumentam também o risco de infarto, insuficiência cardíaca e arritmias.

Portanto, a alimentação e a prática de demais hábitos saudáveis são essenciais para prevenção de doenças que podem acarretar mal súbito.

Covid-19

Desde que iniciaram as vacinações contra Covid-19, males súbitos passaram a ser associados a imunizantes. No entanto, apesar das especulações, o Ministério da Saúde descarta qualquer relação, conforme nota publicada no site oficial do órgão: “não existem evidências científicas que confirmem que casos de mal ou de morte súbita estejam relacionados às vacinas'.

O Ministério da Saúde também ressalta estudo realizado com autópsias, promovido na cidade de Ribeirão Preto (SP). A pesquisa identificou a incidência de casos de morte súbita como sendo de 30 casos para cada 100 mil habitantes por ano, em razão de problemas cardiovasculares.

Sobre o assunto, o órgão reitera que o vírus Sars-CoV-2, responsável pela Covid-19, pode agredir o coração e o sistema circulatório, levando à ocorrência de complicações cardiovasculares e morte.

*Midiamax