Esportes
Fluminense garante a vaga com seu pior desempenho na fase de grupos
BATANEWS-GE
Encerrado o jogo, Renato Gaúcho chegou para a entrevista oficial, ainda no gramado, e repetiu uma frase que não é incomum em suas análises após partidas de desempenho ruim: “Às vezes é melhor você sofrer e conseguir a classificação do que querer jogar bonito e perder a classificação.'
É um sofisma. A lógica do treinador tricolor induz a audiência a um engano. Primeiro, por estabelecer uma falsa relação entre o “jogar bonito' e perder, ou entre o sofrer e atingir o objetivo. Como se o resultado final fosse uma escolha e o pedágio para o objetivo fosse o sofrimento. Por vezes, isto sim, jogos impõem que se sofra. Mas não é justo vender a ideia de que este é o único caminho. Às vezes, sofre-se por jogar mal.
E no caso do 0 a 0 do Fluminense com o Mamelodi, o que está em discussão não é a beleza da exibição, conceito que, aliás, pode ter diversos significados de acordo com cada visão particular de futebol. O que Renato nunca colocou em discussão foi a hipótese do “jogar bem'. E este, embora não garanta nada num jogo de futebol, costuma ser o caminho mais curto para vencer partidas. Seja numa estratégia mais ousada ou mais conservadora.
E é justamente por causa do “jogar bem', das sensações que se busca num jogo, que o Fluminense sai da partida de Miami com sentimentos contraditórios. O time está classificado, mas o empate conclui uma fase de grupos em que o desempenho foi de mais a menos: a equipe fez uma boa partida contra o Dortmund, jogou bem 35 minutos contra o Ulsan, até realizar 90 minutos terríveis contra os sul-africanos.
No primeiro tempo, o Fluminense foi tudo o que o Mamelodi mais gostaria de enfrentar: um rival disposto a tentar pressionar a sua boa saída de bola, mas fazendo isso de forma desestruturada a ponto de expor sua linha defensiva. Especialmente pelo lado esquerdo do tricolor, criavam-se inúmeras dúvidas. Os pontas do time sul-africano fechavam para o meio-campo, dando o corredor aos laterais. Isso ou deixava o trio de volantes do Fluminense em inferioridade, ou gerava em Canobbio e Renê dúvidas sobre o encaixe de marcação. Mudau, o lateral-direito, escapava constantemente. E Matthews teve a grande oportunidade da primeira etapa.
Antes do intervalo, após uma parada técnica, Renato até conseguiu ajustar melhor sua pressão. No entanto, embora boa parte do foco tenha recaído sobre a dificuldade do Fluminense para pressionar o rival, foi o trabalho com bola do time que pareceu o aspecto mais assustador do jogo. Em nenhum momento o time criou aproximações para jogar, trocou passes que permitissem reter a bola ou permitir jogadas em profundidade nos espaços que o Mamelodi permitia. O time tricolor parecia tão condicionado a explorar as costas da defesa sul-africana que precipitava bolas longas em sequência, quase sempre devolvendo a posse ao rival.
O segundo tempo teve outra cara. Era natural que o torcedor do Fluminense sentisse certa aflição diante do cenário: a equipe praticamente abdicou de pressionar a saída de bola rival, defendeu mais atrás, fazendo o jogo acontecer em sua intermediária defensiva numa partida em que qualquer acidente poderia significar a eliminação. O caso é que este foi o período do jogo em que o tricolor menos sofreu. Difícil dizer se foi o caso, mas quem observasse os jogos do Mamelodi pela Liga dos Campeões da África, especialmente a semifinal contra o Al Ahly e a final contra o Pyramids, veria um time que teve enormes percentuais de posse contra rivais dispostos a defender a área. E, nestes jogos, o Sundowns quase não criou. O time tem ótimo controle da bola, mas prefere que o adversário o pressione para gerar alguma ação em profundidade. No segundo tempo contra o Fluminense, teve 70% da posse e quase nenhum lance perigoso.
Ainda que não visse Fábio trabalhar tanto, o jogo era tenso porque o Fluminense raramente ligava algum contragolpe. Uma única vez, Samuel Xavier e Árias se aproximaram para uma combinação curta, até o colombiano cruzar e Cano arrematar na trave. Vendo o jogo em retrospectiva, é possível dizer, agora, que o Fluminense sofreu pouco. No entanto, o placar a zero tornou a classificação incerta até o fim.
Classificado, o Fluminense cumpriu seu primeiro objetivo nos Estados Unidos. A partir de agora, cada passo exigirá um desempenho melhor.