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Fratura na vértebra L1: entenda a lesão que vai afastar Yuri Alberto por semanas
Atacante do Corinthians sofreu uma pancada na região lombar e só deve voltar aos gramados em dois meses. Entenda tratamento e tempo de recuperação
BATANEWS/GE
O atacante Yuri Alberto será desfalque do Corinthians nas próximas semanas por conta de uma lesão na coluna. Após sentir dores na região lombar durante a partida contra o Atlético-MG, no último sábado, exames de imagem detectaram uma fratura no processo transverso da vértebra L1, à direita. O jogador está imobilizado e já iniciou o processo de reabilitação. A seguir, entenda o que é esse tipo de lesão, como é feito o tratamento e qual o tempo estimado de recuperação.
O que é essa vértebra?
A L1 é a primeira das cinco vértebras que compõem a região lombar da coluna. Ela está localizada no ponto em que a medula espinhal geralmente termina e dá origem às raízes nervosas que seguem para as pernas. Essas estruturas são responsáveis por transmitir sinais entre o cérebro e os membros inferiores.
- Os processos transversos são projeções ósseas laterais ao corpo da nossa vértebra para os dois lados. Esses processos servem para inserção de músculos que movem a nossa coluna e ligamentos que trazem estabilidades. Além disso criam “abrigo' para a saída dos nervos da coluna - detalha a fisioterapeuta esportiva Roberta Mendonça.
A fratura do processo transverso é a "quebra" de uma dessas projeções ósseas, normalmente associada a um contração muscular vigorosa ou trauma direto local. Esse tipo de contusão não envolve diretamente o canal medular, mas pode estar associada a dor intensa e limitação funcional.
No futebol, esse tipo de fratura costuma ocorrer por trauma direto na região lombar, como quedas ou pancadas com impacto nas costas. No caso de Yuri Alberto, ele sofreu a lesão após se chocar com o meio-campista Gustavo Scarpa. Com muitas dores, precisou ser carregado pelos companheiros na saída do gramado.
Os especialistas consideram uma lesão de menor gravidade porque não gera instabilidade para a coluna vertebral.
Tratamento e tempo de recuperação
Segundo os especialistas, a cirurgia na fratura só é indicada em casos muito específicos, como fraturas desalinhadas com risco de lesões secundárias. Fora isso, o tratamento é conservador, com imobilização, controle da dor e fisioterapia.
Para atletas profissionais, o tempo estimado para retorno ao futebol após essa lesão é de seis a dez semanas , o que significa dizer que Yuri Alberto pode voltar aos gramados somente no começo de agosto.
Nesse período, o Corinthians ficará cerca de 30 dias sem jogar de forma oficial, entre os meses de junho e julho, por conta da interrupção dos calendários nacional e internacional para a disputa da Copa do Mundo de Clubes. Confirmando o prazo médio máximo, o atacante será desfalque por pelo menos nove partidas.
É preciso destacar que o retorno ao esporte não pode ser baseado apenas no tempo estipulado, mas também em critérios clínicos e funcionais. Isso inclui a comprovação da melhora mediante a realização de testes funcionais e avaliações de imagem e psicológica/confiança, bem como a confirmação da ausência total de dor por parte do atleta, seja no repouso ou na movimentação.
- O prazo é bastante variável principalmente para um atleta com solicitação acima da média. Precisa estar sem dor para voltar as atividades e precisa evitar novos traumas no mesmo local - comenta Alexandre Fogaça, médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.
O tratamento é iniciado pela imobilização e repouso, passando pela fisioterapia, até chegar no retorno completo ao alto rendimento.
Fases de tratamento estimadas por Adriano Leonardi:
0 a 2 semanas: repouso relativo, controle de dor e inflamação;2 a 4 semanas: início da fisioterapia com mobilizações leves, fortalecimento do core e exercícios isométricos;4 a 6 semanas: progressão para atividades funcionais, treino de estabilidade e resistência;6 a 8 semanas: retorno gradual aos treinos com bola, sem contato;Após 8 semanas: retorno completo, se exames clínicos e funcionais estiverem normais.
Para que esse prazo seja cumprido, é preciso que:
Não haja instabilidade vertebral;Não existam lesões neurológicas associadas;O quadro álgico esteja totalmente resolvido;O atleta recupere plenamente a mobilidade da coluna, força muscular paravertebral e condicionamento físico.
É preciso destacar a importância de realizar o tratamento adequado e seguir todas as etapas de forma correta. O retorno precoce ao esporte pode levar a recidiva da fratura (especialmente se houver contato direto ou cargas excessivas), síndrome miofascial lombar por sobrecarga da musculatura paravertebral conservatória, instabilidade funcional da coluna (acarretando em lesões musculares ou hérnias discais) e dor crônica e impacto no desempenho esportivo.
Recursos como eletroterapia, laserterapia e ultrassom terapêutico podem acelerar o processo de regeneração óssea. Além disso, controlar a dor com eletroanalgesia durante a mobilidade ajuda a reduzir o medo do movimento, o que favorece uma recuperação mais segura. Por outro lado, excesso de carga precoce, consolidação incompleta e receio de se movimentar são fatores que podem atrasar o retorno ao esporte.
- Por isso, o acompanhamento deve ser multidisciplinar, envolvendo traumatologista do esporte, fisioterapeuta esportivo, preparador físico e, se possível, acompanhamento por exames de imagem antes da liberação final - explica Adriano Leonardi.
Nesse sentido, a fisioterapia esportiva é essencial para a recuperação do atleta. O profissional atua em três pilares, trabalhando em conjunto com o preparador físico para uma transição segura:
Controle da dor: eletroterapia, crioterapia, terapia manual.Fortalecimento muscular e reequilíbrio: com foco em core, cadeira posterior e estabilidade lombo-pélvica.Treinamento funcional e específico: simulação de gestos esportivos, trabalho de propriocepção e resistência à carga.
Há riscos neurológicos ou sequelas?
A coluna é a estrutura central de suporte e mobilidade do corpo e tem proximidade com o sistema nervoso central. Por isso, as lesões nesta área costumam gerar uma preocupação extra entre familiares e torcedores. Entretanto, não há risco neurológico em casos como o de Yuri Alberto.
- As fraturas do processo transverso são consideradas estáveis, pois não comprometem a integridade do corpo vertebral nem o canal medular - explica Adriano Leonardi.
Lesões na L1 podem afetar a sensibilidade e os movimentos dos quadris e da virilha, além de estar associada aos músculos abdominais inferiores e a capacidade de flexionar as coxas.
Leonardi destaca que é preciso investigar a fratura cuidadosamente, com tomografia e ressonância magnética, para descartar lesões associadas, que podem envolver:
Hematomas retroperitoneais (próximos aos rins);Lesão de estruturas ligamentares ou discais;Comprometimento de nervos periféricos, especialmente os que emergem próximo à L1.
De forma resumida, o risco de complicações é mínimo. A fratura do processo transverso não traz risco à medula espinhal e só gera algum dano à raiz nervosa se houver grande deslocamento do fragmento, o que é raro. A imobilização serve justamente para evitar esse risco. Após a consolidação óssea, não há impedimento para o retorno às atividades.
Fontes:
Adriano Leonardi é ortopedista e médico do esporte, colunista do Eu Atleta.
Alexandre Fogaça é médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.
Roberta Mendonça é fisioterapeuta esportiva especialista pela Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física (Sonafe Brasil).