Dependência de fertilizantes russos expõe agro brasileiro a novos riscos

Tensões geopolíticas elevam o risco de sanções comerciais e pressionam o Brasil a buscar alternativas para garantir insumos vitais à produção agrícola.Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) LinkedIn Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela) Telegram

BATANEWS/O PRESENTE RURAL


Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A crescente tensão internacional em torno das sanções comerciais à Rússia lança novos alertas sobre os impactos nos custos de produção do agronegócio brasileiro. Dados do setor indicam que a dependência do Brasil em relação aos fertilizantes russos permanece elevada, com destaque para os produtos potássicos e nitrogenados, que representam a espinha dorsal da adubação agrícola nacional.

Em 2024, a Rússia foi responsável por 53% das importações brasileiras de MAP (fosfato monoamônico) e por 40% do cloreto de potássio (KCl), além de representar 20% da origem da ureia adquirida pelo país. No total, foram US$ 3,7 bilhões em fertilizantes russos importados, o equivalente a 27% do montante de US$ 13,5 bilhões destinado à compra externa desses insumos no ano. A posição da Rússia como segundo maior produtor mundial de fertilizantes potássicos e nitrogenados, e quarto em fosfatados, reforça sua relevância no cenário global — e, consequentemente, o grau de exposição do Brasil às instabilidades nesse eixo comercial.

Segundo análise da Consultoria Agro Itaú BBA, essa forte concentração de compras compromete a resiliência da cadeia produtiva agrícola, tornando o Brasil vulnerável a efeitos colaterais das sanções secundárias cogitadas pelos Estados Unidos e seus aliados. “Caso barreiras comerciais sejam de fato ampliadas ou se intensifiquem, o setor tende a sofrer aumento imediato nos custos de produção, afetando diretamente a margem de lucro dos produtores rurais e a competitividade das safras brasileiras no mercado internacional”, avaliam os analista da consultoria.

Cenário interno atual

Embora o Brasil tenha um plano de longo prazo para reduzir a dependência externa e ampliar a produção nacional de fertilizantes, a meta ainda está distante da realidade. A indústria doméstica carece de investimentos consistentes, incentivos à produção e infraestrutura logística suficiente para atender à demanda de uma das maiores potências agrícolas do planeta.

Como saída emergencial, especialistas apontam a necessidade de diversificar fornecedores e estabelecer novas rotas comerciais. Parcerias com países como Canadá, Marrocos, Nigéria e nações do Oriente Médio ganham relevância estratégica nesse cenário. Contudo, esse movimento exige mais que boa vontade: trata-se de uma transição que implica negociações diplomáticas, reestruturação logística e, possivelmente, aumento de custos no curto prazo, sem garantia de estabilidade de oferta.

Sinal amarelo

No campo energético, a possível restrição à importação de petróleo e derivados russos também acende um sinal amarelo, sobretudo quanto ao encarecimento do frete, um dos principais vilões do custo final ao produtor.

Por outro lado, há quem veja oportunidade para o biodiesel brasileiro, cuja demanda pode ser impulsionada como alternativa ao diesel fóssil, abrindo espaço para políticas de incentivo à produção nacional de biocombustíveis.

Com a proximidade do prazo para eventuais sanções e a instabilidade nos mercados internacionais, produtores e agentes do setor devem se preparar para um segundo semestre de volatilidade e necessidade de adaptação estratégica. A agenda de fertilizantes volta, mais uma vez, ao centro do debate sobre segurança alimentar e soberania produtiva.